Para se beneficiar da crise energética, EUA está sacrificando a segurança e a economia europeia (Sputnik/Aleksei Danichev)

A política de extorsão da Europa com os altos preços cobrados pela energia que passa a ser importada em substituição ao gás russo será autodestrutiva para os Estados Unidos, alertam economistas de todo o mundo, uma vez que o país tem o continente como o seu principal sócio.

“A Europa é a parceira mais importante da América e uma recessão lá se espalhará imediatamente para os Estados Unidos. Um dólar estadunidense forte tornará as exportações dos EUA para a Europa menos competitivas e isso prejudicaria os esforços dos EUA para se reindustrializar”, advertiu Gal Luft, codiretor do Instituto de Análise de Segurança Global e conselheiro sênior do Conselho de Segurança Energética dos EUA. “Uma recessão europeia também pode desencadear uma crise da dívida que forçará os EUA a intervir. Nada de bom poderia sair disso”, acrescentou.

De acordo com o conselheiro sênior, “as dezenas de navios-tanque de [gás natural liquefeito] GNL que cruzam o Atlântico são um testemunho do compromisso dos EUA em substituir o gás russo pelo norte-americano”. “A questão é que o fornecimento dos EUA é insuficiente para substituir o fornecimento da Rússia e a mudança do gás russo [de gasoduto] para GNL levará anos e bilhões de euros para se materializar, em um momento em que a Europa está sob extrema aflição econômica. Os EUA querem retirar o gás russo da Europa para que eles possam devorar essa parcela do mercado”, explicou.

A análise sobre a gravidade da situação em que a economia estadunidense se vê involucrada é compartilhada por Mamdouh G Salameh, economista internacional de petróleo e especialista global em energia. “A União Europeia (UE) já caminha para a recessão mais dura que se pode imaginar como resultado do aumento vertiginoso dos preços da energia, de uma enorme redução do poder de compra dos europeus e dos enormes custos financeiros do transporte de grandes volumes de armas para a Ucrânia”, apontou.

Ao apostar que uma UE debilitada economicamente ficará cada vez mais frágil às suas determinações políticas, avalia Salameh, os europeus “eventualmente acabarão por ver os EUA em suas cores reais, [como] um império sinistro e ganancioso que recusará qualquer acordo ou tratado se esse não servir a seus interesses e deixará seus amigos sem qualquer hesitação ou acolhimento a novos amigos autoritários, se isso servir a seus interesses do momento”.

O problema para os EUA, enfatizou Salameh, “é que o país importa atualmente mais de nove milhões de barris por dia e que qualquer aumento nos preços do petróleo bruto aumenta a fatura de importação de petróleo dos EUA, amplia seu déficit orçamentário e incrementa suas dívidas atualmente superiores a US$ 26,5 trilhões [cerca de R$ 135,8 trilhões]”.

Citando a secretária do Tesouro dos Estados Unidos, Janet Yellen, o próprio The Washington Post (WP) ressaltou que uma paralisação completa das exportações russas de petróleo impactará gravemente a economia dos EUA, dando um novo impulso aos preços globais da energia.

Mas esta não é a compreensão da Casa Branca, para quem o agravamento da crise na Europa será “modesto” internamente, apegando-se a alguns economistas do país, que dizem que a recessão europeia “pode, na verdade, ser positiva” para os Estados Unidos.

Conforme o WP, funcionários da Casa Branca acreditam que “a crescente probabilidade de uma recessão na Europa é improvável que mude sob a trajetória atual”. E reiteraram ao jornal, baseados em estimativas do Departamento do Tesouro e Conselho dos Assessores Econômicos, que o efeito desta recessão seria “modesto e controlável”.

Segundo as previsões da holding Barclays Capital – que cotiza nas Bolsas de Londres, Nova Iorque e Tóquio – a União Europeia pode mergulhar em uma recessão duradoura, que durará até o segundo trimestre de 2023, enquanto o PIB cairá 1,7%. Pelas suas projeções, Alemanha, França, Itália e Espanha serão os países mais afetados pela crise.

Levantamentos do site Sputnik apontam que ao longo dos últimos cinco anos, a UE consumia em média 400 bilhões de metros cúbicos de gás por ano: consumidores privados recebiam cerca de 100 bilhões, as indústrias – 167 bilhões, e todo o resto destinava-se para o setor energético. “Antes do início da operação militar especial russa na Ucrânia, quase metade do combustível consumida pelos europeus era fornecida por Moscou”, informou.

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