Brasília - O Banco do Brasil | Foto Marcelo Camargo Agência Brasil

No final do segundo semestre deste ano, o endividamento das famílias chegou a 53,1%, atingindo o maior patamar da série histórica do Banco Central (BC), iniciada em janeiro de 2005. Em 12 meses até julho, o endividamento aumentou 5,1% – reflexo dos juros altos e da queda da renda dos brasileiros num quadro de economia estagnada com desemprego e inflação elevados. Em julho, o comprometimento da renda do trabalhador com dívidas com instituições financeiras chegou a 28,6% da renda, maior nível desde março de 2005, de acordo com dados divulgados pelo BC nesta quarta-feira (28).

Sob Bolsonaro, além do arrocho salarial, o orçamento das famílias foi arrochado com o aumento das despesas com a alimentação, que acumula alta de 14,63% nos últimos 12 meses até setembro, de acordo com o Índice de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) do IBGE, prévia da inflação.

Considerando o financiamento imobiliário, o patamar do endividamento chega a 33,64% – o mais alto desde 2005. Em julho do ano passado, o nível estava em 29,6%. Deste recorte, o comprometimento da renda do trabalhador com dívidas com instituições financeiras chega a 26,6%, também o maior da série histórica.

Além da explosão dos preços dos alimentos, há ainda os aumentos da inflação em outros itens básicos do dia a dia, como vestuário, contas de energia e água, gás de cozinha, aluguel, saúde e higiene pessoal, entre outras, quando a realidade é que neste intervalo de tempo o movimento dos salários dos trabalhadores foi no caminho contrário.

Com a conta não fechando no final do mês, muitos brasileiros foram obrigados a buscar créditos de bancos – com seus juros extorsivos – que foram alavancados ainda mais pelos sucessivos aumentos da taxa básica de juros da economia (Selic), realizados pelo Banco Central (BC), que teve início em 17 de março de 2021 e, desde então, a taxa subiu 12 vezes consecutivamente, de 2% para 13,75% ao ano. Neste patamar, o Brasil lidera o ranking mundial de juros reais, isso é, descontada a inflação, segundo o portal MoneYou e pela gestora Infinity Asset Management.

JUROS ELEVADOS

No mês passado, o juro médio total cobrado pelos bancos no rotativo do cartão de crédito subiu 3,5 pontos porcentuais de julho para agosto, passando de 394,9% para 398,4% ao ano. Só neste ano, o rotativo subiu 51 pontos percentuais (p.p), já que em dezembro do ano passado, estava em 347,4%. No caso do cartão de crédito parcelado, o juro passou de 181,7% para 185,9% ao ano.

No caso do cheque especial das pessoas físicas, a taxa chegou a 128,6% ao ano, a maior taxa desde junho deste ano (129,2% ao ano). O cartão e o cheque especial são as modalidades de créditos mais usadas pelos brasileiros nas horas emergenciais.

A taxa média de juros para pessoas físicas também deu um salto nos últimos meses. Em agosto, chegou a 53,9% ao ano – maior nível desde abril de 2018 (56,3% ao ano).

Do lado das empresas, a taxa média cobrada em agosto foi de 22,8% ao ano. Em dezembro, a taxa média estava em 19,7%. Já o capital de giro ficou em 22%, patamar também superior aos 20,7% de taxa média registrada em dezembro.

Na via dos juros altos, a indústria e o comércio vão amargando perdas. No ano, até julho, a indústria acumula queda de 2,0% e, em 12 meses, o acumulado foi -3,0%. Já as vendas no comércio recuaram 0,8% em julho pelo terceiro mês seguido.

A escalada dos juros não resolveu o problema da inflação, que vem de causas que não têm a ver com o aumento da demanda. Em 2021, o IPCA, que mede a inflação oficial do país, encerrou em alta de 10,06%, o maior aumento desde 2015 (10,67%). Nos últimos 12 meses até agosto, o índice geral acumula alta de 8,73%, de acordo com o IBGE.

Por outro lado, o avanço dos juros levou ao aumento da transferência da renda da população ao setor financeiro. Nos últimos 12 meses até agosto, o desvio de recursos públicos para pagamento de juros da dívida bateu a marca de R$ 586,4 bilhões. No mesmo intervalo de tempo do ano passado, a soma havia sido de R$ 323,5 bilhões. Ou seja, em um ano, foram acrescentados mais de R$ 200 bilhões para os bancos, rentistas e demais especuladores da dívida.

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