Milton Ribeiro e os pastores | Foto: Reprodução

Um empresário do Pará, chamado Ailton Souto da Trindade, relatou que ouviu diretamente do ex-ministro da Educação, Milton Ribeiro, que licitações de obras seriam fraudadas para que ele desviasse dinheiro para os pastores Arilton Moura e Gilmar Santos em pneus de caminhonete.

Ailton Souto Trindade contou que ouviu do pastor Arilton Moura, um dos organizadores do esquema criminoso, que Jair Bolsonaro estava atuando para que ninguém fosse pego.

Milton Ribeiro foi preso e demitido depois que foi descoberto um “gabinete paralelo” no Ministério da Educação que servia para desvio de dinheiro para os pastores bolsonaristas.

Em entrevista concedida ao Estadão, o empresário falou que esteve em uma reunião do ex-ministro da Educação, Milton Ribeiro, com prefeitos. Ailton Trindade é dono de uma construtora e candidato a deputado estadual pelo PP no Pará.

“Depois houve o coquetel, num andar mais acima. Lá, a gente conversou, teve essa conversa com o ministro. Eu não sabia nem quem era o ministro. Ele se apresentou: ‘Eu sou Milton, o ministro da Educação, e o Gilmar [Santos] já me passou o que ele propôs para você e eu preciso colocar a tua empresa para ganhar licitações, para facilitar as licitações. Em troca você ajuda a igreja. O pastor Gilmar vai conversar com você em relação a tudo isso’”, contou o empresário.

A proposta que foi apresentada pelo ex-ministro de Bolsonaro e pelos pastores era que a empresa de Ailton Trindade vencesse licitações fraudadas e desviasse parte do dinheiro para os envolvidos.

“Eles falaram: ‘existe uma proposta para tu fazer isso (as obras)’. Aí eu disse: ‘que proposta?’. ‘Bom, a gente está precisando reformar umas igrejas e estamos precisando também construir alguns templos, no Maranhão, no Pará, e também outros lugares. Então estamos precisando de R$ 100 milhões para fazer isso’”.

“Aí eu falei: ‘mas o que que eu vou ganhar em troca? Como é que vai acontecer? A igreja vai contratar minha empresa?’ ‘Não, a gente faz um contrato, entendeu? Faz o contrato com a empresa, a igreja contrata a tua empresa e eu consigo articular para tua empresa – minha empresa é uma construtora – fazer as obras do governo federal’”, explicou.

O ex-ministro e os pastores falaram que a construtora de Ailton iria “ganhar todas as licitações. Aí em troca ia dar esses R$ 100 milhões que ia dar 20%”.

Segundo o empresário, o acordo não foi para frente porque o esquema criminoso no Ministério da Educação foi descoberto.

“Durante a reportagem que estava passando em todos os canais, eu liguei para o Arilton e falei ‘olha, o que vai acontecer agora?’. Ele disse ‘a gente não vai conversar, não vai falar nada sobre as nossas reuniões, vamos ficar calados e o Bolsonaro está agilizando aí para deixar como estar, todo mundo vai ficar de boca fechada’”.

“Eu não fechei acordo, não assinei contrato. Inclusive, mandaram um contrato para mim, da igreja. Só que não foi para frente porque eles começaram a pedir dinheiro. Eles queriam R$ 5 milhões que eu repassasse para eles em espécie. Queriam que eu colocasse no pneu de uma caminhonete e mandasse para Goiânia”, relatou.

Goiânia é a cidade onde é sediada a igreja de Arilton Moura e Gilmar Santos.

A deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ) comentou o caso, através das redes sociais, ironizou a insistência de Bolsonaro de que não há corrupção em seu governo.

“Dinheiro vivo para comprar imóveis. Dinheiro vivo em pneus para pagar propina. Não tem corrupção neste governo, só tem gente maldosa denunciando vários esquemas de enriquecimento ilícito e desvio de recursos públicos rolando ao mesmo tempo talkey?”, disse a deputada.

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