Em meio a sanções, yuan da China tem seu auge na Rússia
O yuan chinês está rapidamente ganhando popularidade na Rússia em meio a sanções ocidentais sobre a guerra na Ucrânia. Analistas avaliam que o eixo da Rússia neste sentido poderia impulsionar as ambições da China de promover um maior uso internacional de sua moeda, ao mesmo tempo em que ajudaria Moscou a contornar as sanções ocidentais destinadas a separá-la do sistema financeiro global.
Negociada na Bolsa de Moscou, a moeda subiu mais de 50 vezes este ano, saltando de 0,5 por cento do total de transações em janeiro para 26 por cento em agosto.
É cada vez mais usada nos acordos comerciais internacionais da Rússia e várias de suas maiores empresas começaram a emitir títulos denominados em yuan em uma tentativa de levantar capital.
Os russos também começaram a estocar, pois um número crescente de bancos oferece aos clientes a opção de abrir depósitos em yuan.
Indivíduos compraram um recorde de 4,5 bilhões de yuans (US$ 0,6 bilhão) no mês passado, segundo dados do banco central da Rússia.
Riscos ocidentais
“A popularidade do yuan se deve à crescente toxicidade do dólar e do euro para os russos”, disse Alexandra Prokopenko, analista que já foi consultora do banco central russo. As contas russas no exterior podem ser congeladas a qualquer momento e as transações envolvendo dólares e euros demoram muito para serem processadas, enquanto o yuan não sofre essas restrições.
Pouco depois de o presidente Vladimir Putin ordenar a entrada de tropas russas na Ucrânia, os Estados Unidos e a União Europeia impuseram sanções contra o banco central russo, o fundo soberano e várias das maiores instituições financeiras do país.
O governo do presidente dos EUA, Joe Biden, também proibiu a exportação de notas de dólar para a Rússia.
A Rússia respondeu a essas sanções sem precedentes aproximando-se ainda mais da China.
Lacuna preenchida
Nos primeiros oito meses deste ano, o volume de negócios entre os dois países aumentou 31%, chegando a US$ 117,2 bilhões, e as autoridades previram que está a caminho de atingir um recorde de US$ 200 bilhões antes de 2023.
Pequim emergiu como o maior cliente de energia de Moscou e as empresas chinesas começaram lentamente a preencher as lacunas no mercado russo criadas pelo êxodo em massa de corporações ocidentais.
Desde o início da guerra, a Rússia se tornou o terceiro maior mercado para pagamentos em yuan fora da China continental, respondendo por quase 4% dos acordos internacionais envolvendo a moeda chinesa em julho, segundo o sistema de pagamentos SWIFT.
No início deste mês, as gigantes estatais de energia Gazprom e a China National Petroleum Corporation assinaram um acordo segundo o qual a China começaria a pagar pelo fornecimento de gás natural russo exclusivamente em yuans e rublos.
Um número crescente de gigantes corporativos russos também está buscando atrair financiamento na moeda chinesa.
Nos últimos dois meses, o conglomerado estatal de petróleo Rosneft, a produtora de alumínio Rusal, a mineradora de ouro Polyus e a metalúrgica Metalloinvest emitiram títulos denominados em yuan com um valor total de 25,6 bilhões de yuans (US$ 3,7 bilhões).
Enquanto isso, o Ministério das Finanças russo anunciou planos para emitir títulos soberanos em yuans, embora seja amplamente esperado que os preparativos para a colocação levem pelo menos mais um ou dois anos.
Devido à alta demanda, as empresas que acumularam grandes quantidades da moeda chinesa conseguiram vendê-la a uma taxa de juros favorável.
Os bancos russos também estão se movendo para expandir suas ofertas de yuans.
Os russos agora podem abrir contas denominadas em yuans em 10 dos 30 maiores bancos do país, sem usar o sistema de pagamento internacional SWIFT, informou a agência de notícias estatal RIA Novosti.
Os bancos tentam ativamente desencorajar os clientes a armazenar economias em dólares ou euros, recusando-se a abrir novos depósitos nessas moedas, oferecendo taxas baixas ou cobrando comissões. Com isso, a opção que resta é converter as economias em yuans.
Apesar do impulso recente do yuan, ainda permanecem sérias questões sobre a capacidade da moeda chinesa de substituir o dólar e o euro pela Rússia. Como o yuan não é uma moeda livremente conversível, os russos podem perder se Pequim decidir desvalorizar sua moeda.
O yuan também é menos conveniente para investimentos, em comparação com o dólar ou o euro. Além de títulos e depósitos, não há muitas maneiras de usar o yuan na Rússia. Assim, investidores mais abastados ficam desconfiados de converter todos os seus recursos sem saber o que poderá fazem com isso depois.
Da Aljazira por Cezar Xavier