Décio Lima: Governos Lula e Dilma transformaram a vida do povo catarinense
O candidato a governador de Santa Catarina, Décio Lima (PT), foi o mais recente entrevistado da série de sabatinas do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, com a participação de jornalistas de veículos alternativos, entre os quais o Portal Vermelho. Realizada na noite desta segunda-feira (5) e transmitida pelas redes sociais, a entrevista tratou dos cenários políticos nacional e local e fez um diagnóstico de algumas das principais questões em pauta no estado.
Único candidato da esquerda em Santa Catarina, que tem maioria de eleitores alinhados com o bolsonarismo e outros sete postulantes ao governo que orbitam neste espectro, o ex-deputado federal e ex-prefeito de Blumenau Décio Lima tem o desafio de reverter a tendência ultraconservadora dos últimos anos e ajudar na eleição de Lula (PT) à presidência. Para tanto, formou-se a Frente Democrática, composta pela Federação Brasil da Esperança (PT, PCdoB e PV), além do PSB, partido de sua vice, Bia Vargas e do candidato ao Senado, Dario Berger, e o Solidariedade.
A mais recente pesquisa da Jovem Pan FM/Mapa, divulgada no dia 4 de setembro, mostra um salto importante nas intenções de voto do petista, que saiu de 6% para 14% — crescimento de 130% —, figurando em terceiro lugar, em condições de possível empate técnico com o segundo, o governador licenciado Carlos Moisés (REP), que tem 18,9%. Em primeiro lugar está o senador Jorginho Mello (PL), com 27,7% — ambos os primeiros colocados, assim como o quarto, Gean Loureiro (União Brasil), que tem 10,8%, fazem parte do campo bolsonarista.
O quadro nacional, conforme pesquisa Ipec divulgada na segunda-feira (5), aponta Santa Catarina como um dos seis estados em que o presidente Jair Bolsonaro (PL) tem a preferência dos eleitores para a presidência, 50%, contra 25% de Lula. A situação, no entanto, conforme aponta Décio Lima, é melhor do que a de 2018. Naquele ano, os catarinenses deram 65% dos votos a Bolsonaro no primeiro turno e 75% no segundo.
Ao recordar os anos de Lula e Dilma Rousseff no estado, Décio comentou: “Nossos governos transformaram a vida do povo catarinense”. Por outro lado, destacou: “Eu não consigo entender porque há tantos catarinenses que possam gostar de Bolsonaro porque visivelmente ele não gosta dos catarinenses, de Santa Catarina”.
Confira alguns dos principais trechos da entrevista.
Santa Catarina com Lula
“Eu não consigo entender porque há tantos catarinenses que possam gostar de Bolsonaro porque visivelmente ele não gosta dos catarinenses, de Santa Catarina (…) Há uma clara diferença entre o que foram nossos governos em Santa Catarina e o que é com Bolsonaro. O estado, que é a sexta economia do país, o sexto PIB, paga de impostos para o governo federal R$ 97 bilhões e desse montante, apenas 7% vieram na forma de retorno, republicano, por força de lei, para o estado”.
“Somente em 2008, com o presidente Lula, o retorno foi de 60% daquilo que representava os impostos catarinenses. Lula e Dilma Rousseff fizeram transformações gigantes no estado, com por exemplo a duplicação da BR 101 Sul, a ponte Anita Garibaldi — enorme, estaiada, de quase três quilômetros —, feitas com celeridade incrível. Somente esta obra impactou no crescimento do nosso PIB em R$ 9 bilhões. Nossos governos transformaram a vida do povo catarinense”.
Porto de Itajaí
“Fui, naquele período, superintendente do Porto de Itajaí, que é o segundo maior em movimentação de carga de alto valor agregado, importante na logística das cadeias produtivas que se encontram aqui no Sul do país. E as obras que o presidente Lula, nosso governo, fizeram no Porto de Itajaí impactaram no crescimento de mais R$ 2 bilhões em nosso PIB. E nosso governo tem outras marcas ainda: o PAC na infraestrutura; o começo da duplicação da BR 470, obra que atende a logística de várias cadeias produtivas de SC; 30 institutos federais; programas que modificaram a vida dos catarinenses nas cidades, como o Pró-Infância, o Caminho da Escola e os equipamentos entregues às cidades”.
Santa Catarina com Bolsonaro
“Bolsonaro, nos últimos três anos, não tem aqui um tijolo colocado. As estradas de SC hoje são um retrato vergonhoso para o nosso povo. Santa Catarina vive o desprezo do ponto de vista da condição de vida do povo catarinense. (…) Se tem um estado neste país desprezado pelo Bolsonaro é Santa Catarina. Não há nada que se possa colocar plaquinha do governo federal”.
“A vida está dura para o povo catarinense, com diminuição da renda, embora não tenhamos altas taxas de desemprego por causa do mutualismo. Mas a renda do povo foi deteriorada. Para se ter uma ideia, a renda média decresceu de R$ 2.100 para R$ 1.700 e as coisas, como sabemos, subiram de preço. Eles não vão conseguir fazer fake news da prateleira do supermercado, da bomba de gasolina, porque povo catarinense percebe esse ambiente de vida, e está abominando o presente com saudade do passado recente, que transformou a vida do povo catarinense”.
Frente Democrática
“Hoje, a Frente Democrática, à qual eu pertenço e que tenho a honra de ser o candidato a governador, alcançou praticamente um empate, com possibilidade clara de estarmos no segundo turno pela primeira vez na história de SC. Estamos muito animados com essa possibilidade e se formos, vamos ganhar as eleições aqui em SC. Mas, mais do que isso, nossa tarefa aqui, uma tarefa apaixonante para todos nós, é derrotar o bolsonarismo e fazer com que o presidente Lula ganhe as eleições aqui no primeiro turno. Acredito que o povo catarinense, pelo grau da sua inteligência, vai saber, no dia do voto, fazer a melhor escolha para o nosso Brasil e para Santa Catarina”.
Cenário local
“Temos uma frente democrática, nossa candidatura é a única do Lula em Santa Catarina. Os outros sete concorrentes disputam o ambiente bolsonarista, e isso nos dá uma condição muito clara, de possibilidade real, de segundo turno. Fui o candidato que mais cresceu, 130%, de 6% para 14%.”
“Temos uma chapa consistente com Dario Berger (PSB) para o Senado, minha vice é uma mulher, preta, mãe, uma baita catarinense que nos orgulha, que está encantando o povo catarinense, a Beatriz Vargas (PSB). E temos uma chapa de deputados federais com 64 nomes, além de 120 para estadual, números expressivos que mostram o tamanho da nossa frente”.
“O fato de construirmos uma frente dessa proporção em SC, que não é só de esquerda já que também aglutinou outros setores democráticos, é algo inusitado. (…) Esse elemento já é uma grande vitória na nossa luta contra os valores do fascismo que afloraram em todos os lugares do nosso país e aqui é muito forte, mas também de estabelecer uma construção, pela primeira vez, de uma alternativa de poder”.
Bolsonarismo em Santa Catarina
“O que aconteceu aqui e no Brasil foi muito grave. Santa Catarina deu 65% para Bolsonaro no primeiro turno e 75% no segundo em 2018. Cidades como Blumenau, que eu governei, com oito anos de mandato, um governo progressista, com todos aqueles valores conhecidos de orçamento participativo, processos de inclusão, obras, um prefeito que saiu aprovado com 85% e depois não conseguia sair na rua por razões absurdas, por ser pertencente ao PT ou por ser defensor da verdade acerca das mentiras que foram construídas contra o presidente Lula. É uma luta permanente, ainda não acabou, embora hoje o ambiente seja muito diferente e já conseguimos avanços significativos”.
“Nesses últimos anos, nós não fomos resistentes, fomos resilientes, vergamos, mas não quebramos diante da onda terrível, porque não é apenas ‘ser Bolsonaro’, é ser tomado por uma onda de valores que entraram nas famílias — de se armar, de ter ódio, de perseguir. Isso foi muito forte”.
Feminicídios
“Santa Catarina tem acontecimentos que são inexplicáveis: somos um estado que convive com um dos maiores índices de feminicídio no país, uma mulher é morta por semana, um número muito preocupante”. (…)
“Temos feito um grande debate, ao longo da campanha, em defesa das mulheres. Primeiro, acreditamos que é preciso ter política de Estado, protetiva; além disso, é preciso, não apenas em SC como no Brasil, acabar com a impunidade. Não podemos ter tolerância com agressões cometidas contra as mulheres”. (…)
Grupos neonazistas
“Aqui não é terra de nazista, de machista, o que há aqui é um desgoverno em relação a situações dessa natureza. Há uma desfaçatez, uma naturalização dessas coisas como se isso não fosse uma vergonha para nós. Temos de resolver isso, é um absurdo. Naturalizam o mal ao invés de puni-lo. Vamos ter políticas de governo, estamos fazendo esse debate permanentemente do ponto de vista dos valores humanistas. (…) Não há nada aqui de política de Estado para proteger as mulheres, para combater com o rigor da lei as manifestações nazistas. O estado é inoperante: fecha os olhos e finge que isso não é um problema. É isso que precisamos mudar aqui; Bia Vargas e eu estamos comprometidos em estancar as agressões às mulheres e não permitir essas manifestações nazistas que a humanidade já jogou no lixo da história”.
Fome e desigualdade
“A fome é decorrente de vários aspectos da economia nacional. Somos uma população de 7,5 milhões habitantes, com 5,2 milhões de eleitores e hoje temos meio milhão de catarinenses em vulnerabilidade alimentar, com uma renda não superior a R$ 420. Temos outros 1,3 milhão de habitantes que estão num patamar de menor condição de exclusão, mas com uma renda média pequena, que não se alimentam como deveriam, com as três refeições por dia. Temos esse processo de exclusão, embora sejamos um estado com um dos melhores índices de empregabilidade e muito marcado pelo micro e pequeno empreendedor e pela agricultura familiar”.
Questão ambiental e indígena
“A questão ambiental e de proteção aos povos nativos é um ato de natureza política, de poder discricionário, de construção de legislação que tem o processo ungido por decisões de natureza política. (…) No momento em que estiver governando SC vou, por ato de decisão, impedir os acontecimentos de que SC tem sido palco e nos envergonham. Somos um povo que historicamente tem protegido o nosso patrimônio ambiental. Ao mesmo tempo, somos um povo que abraçou populações originárias que nos dão muito orgulho de sua existência”.
“Temos condições, no Brasil e no estado, de fazer um impedimento desse processo agressivo, de proibir todos esses abusos que fazem parte de uma narrativa de um presidente que manda agredir a natureza e invadir terras indígenas, retirar o que é possível sem critério. Não podemos mais conviver com isso”.