CNBB repudia “manipulação religiosa e fake news”
Os bispos reunidos na 59ª Assembleia da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) divulgaram nesta sexta-feira mensagem dirigida ao povo brasileiro sobre o atual momento porque passa o país. No texto, os bispos citam a desigualdade, a fome, “os alarmantes descuidos com a terra”, a violência potencializada pelo uso de armas”. Também fazem referência ao período eleitoral e a defesa da “nossa jovem democracia”.
“Nosso País está envolto numa complexa e sistêmica crise, que escancara a desigualdade estrutural, historicamente enraizada na sociedade brasileira. Constatamos os alarmantes descuidos com a Terra, a violência latente, explícita e crescente”, que é “potencializada pela flexibilização da posse e porte de armas que ameaçam o convívio humano harmonioso e pacífico na sociedade”.
“Entre outros aspectos destes tempos estão o desemprego e a falta de acesso à educação de qualidade para todos”, prosseguem os bispos, reunidos em Aparecida (SP) desde o dia 28 de agosto e que encerraram os trabalhos nessa sexta-feira.
“Entre outros aspectos destes tempos estão o desemprego e a falta de acesso à educação de qualidade para todos. A fome é certamente o mais cruel e criminoso deles, pois a alimentação é um direito inalienável (cf. Papa Francisco, Fratelli Tutti, 189)”, continuam os religiosos.
“Segundo relatório da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO, 2022), a quantidade de brasileiras e brasileiros que enfrentam algum tipo de insegurança alimentar ultrapassou a marca de 60 milhões”, cita o documento.
“Como pastores, temos presente a vida e a história de nossas comunidades, o rosto de nossa gente, marcado pela fé, esperança e capacidade de resiliência. Nossas alegrias e esperanças, tristezas e angústias são as mesmas de cada brasileira e brasileiro. Com esta mensagem, queremos falar ao coração de todos”.
De acordo com o texto, além dos desafios “estruturais e conjunturais”, ainda temos que “defender o óbvio”. “Como se não bastassem todos os desafios estruturais e conjunturais a serem enfrentados, urge reafirmar o óbvio: nossa jovem democracia precisa ser protegida, por meio de amplo pacto nacional”.
Isso não significa somente “um respeito formal de regras, mas é o fruto da convicta aceitação dos valores que inspiram os procedimentos democráticos […] se não há um consenso sobre tais valores, se perde o significado da democracia e se compromete a sua estabilidade” (Compêndio da Doutrina Social da Igreja, 407).
“Ao comemorarmos o bicentenário da Independência do Brasil, é fundamental ter presente que somos uma nação marcada por riquezas e potencialidades, contudo, carente de um projeto de desenvolvimento humano, integral e sustentável”, defende a CNBB.
O texto aponta que somos vítimas de uma “economia que mata”. “Vítimas de uma economia que mata, celebramos as conquistas desses 200 anos de independência conscientes de que condições de vida digna para todos ainda constituem um grande desafio”.
“É necessário o compromisso autêntico com a verdade, com a promoção de políticas de Estado capazes de contribuir de forma efetiva para a diminuição das desigualdades, a superação da violência e a ampliação do acesso a teto, trabalho e terra”, pontuam os pontífices.
“Comprometidos com essas conquistas e inspirados pela cultura do diálogo e do encontro, podemos ser uma nação realmente independente e soberana”, continuam.
MANIPULAÇÃO E FAKENEWS
Os bispos citam também a “manipulação religiosa” e a difusão de fake news que têm o “poder de desestruturar a harmonia”. É motivo de preocupação a manipulação religiosa e a disseminação de fake News que têm o poder de desestruturar a harmonia entre pessoas, povos e culturas, colocando em risco a democracia”.
“A manipulação religiosa, protagonizada por políticos e religiosos, desvirtua os valores do Evangelho e tira o foco dos reais problemas que necessitam ser debatidos e enfrentados em nosso Brasil. É fundamental um compromisso autêntico com o Evangelho e com a verdade”.
A CNBB destaca que, “a corrupção, histórica, contínua e persistente, subtrai o que pertence aos mais pobres”. E a Lei da Ficha Limpa, “que proíbe que condenados por órgãos colegiados possam se candidatar a cargos políticos é uma conquista popular e democrática, que deve ser promovida, juntamente com outros mecanismos de controle que garantam a ética na política”.
O texto menciona que iniciativas de “ruptura” da ordem institucional objetivam “colocar em xeque” a lisura do processo eleitoral. “Mesmo com todos esses desafios, a dinâmica da democracia nos coloca, mais uma vez, num processo eleitoral. Tentativas de ruptura da ordem institucional, veladas ou explícitas, buscam colocar em xeque a lisura desse processo, bem como, a conquista irrevogável do voto”.
Mas, “pelo seu exercício responsável e consciente, a população tem a capacidade de refazer caminhos, corrigir equívocos e reafirmar valores”, acreditam. “Reiteramos nosso apoio incondicional às instituições da República, responsáveis pela legitimação do processo e dos resultados das eleições”, afirmam.
Finalizam conclamando toda a sociedade brasileira a “participar ativa e pacificamente das eleições” elegendo candidatos “comprometidos com o bem comum”. “[…] Conclamamos, mais uma vez, toda a sociedade brasileira a participar ativa e pacificamente das eleições, escolhendo candidatos e candidatas, para o executivo (presidente e governadores) e o legislativo (senadores e deputados federais, estaduais e distritais), que representem projetos comprometidos com o bem comum, a justiça social, a defesa integral da vida, da família e da Casa Comum.
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