Bolsonaro e o filho '01' em aniversário de milicianos | Reprodução Rede social

Levantamento da ficha corrida da família Bolsonaro, feito pela jornalista Juliana Dal Piva, revela que o chefe do clã e seus dois filhos, Flávio e Carlos, condecoraram ao menos 16 policiais militares ligados ao crime organizado, conforme denúncias do Ministério Público do Rio de Janeiro. Entre os homenageados estão Adriano Nóbrega, o major Ronald Pereira e, mais recentemente, o delegado e ex-chefe da Polícia Civil Allan Turnowski.

Adriano Nobrega, o ex-caveira do Bope, após ser expulso da PM por envolvimento com a máfia do jogo do bicho, virou chefe do Escritório do Crime – uma quadrilha especializada em assassinatos por encomenda – e foi um dos que foi homenageado por Bolsonaro não só com medalhas, mas com discursos em sua defesa na Câmara Federal e cargos no gabinete para seus parentes. Sua ex-mulher e sua mãe passaram a receber salários do gabinete do então deputado estadual Flávio Bolsonaro.

Bolsonaro não só discursou no plenário da Câmara em 2005 em defesa de Adriano Nóbrega, um ex-PM que se tornou um pistoleiro profissional e chefe da milícia de Rio das Pedras, preso por assassinato, como, junto com Flávio, visitou-o na prisão. Adriano, que estava foragido e foi morto numa operação policial em 2020, recebeu das mãos de Flávio Bolsonaro a Medalha Tiradentes, maior honraria ofertada pelo estado do Rio de Janeiro.

A entrega da Medalha Tiradentes se deu quando já estava atrás das grades. Adriano foi homenageado duas vezes por Flávio Bolsonaro: uma moção em 2003, e depois, com a medalha Tiradentes em 2005. As duas homenagens de Flávio foram feitas a mando de seu pai, Jair Bolsonaro. O mandatário confirmou, em fevereiro de 2020, que partiu dele a ordem para que seu filho, Flávio, homenageasse o ex-policial militar Adriano da Nóbrega.

Quando recebeu a medalha, Adriano Nóbrega estava preso aguardando julgamento pela morte do guardador de carros Leandro dos Santos Silva, ocorrida em novembro de 2003. Ele e um grupo de policiais foram presos em flagrante acusados de executar Silva, que, dias antes, tinha denunciado um episódio de tortura e extorsão comandado por Adriano Nóbrega.

A outra visita tinha ocorrido com a presença de Jair e seu filho, Flávio. Ela ocorreu durante um falso motim de policiais que estavam presos no recém-criado Batalhão Especial Prisional (BEP), em 28 de outubro de 2004. Os militares presos se revoltaram porque eles queriam ficar detidos na carceragem do Batalhão de Choque da PM, onde eles tinham regalias, e não no Batalhão Especial Prisional (BEP), em Benfica.

Em entrevista ao site UOL, o sociólogo Paulo Baia, subsecretário de Direitos Humanos do governo do Rio de 2003 a 2005, contou que foi despertado no início da manhã do primeiro dia da rebelião por um telefonema do então deputado estadual Flávio Bolsonaro, à época, em seu primeiro mandato na Alerj. “Ele falou assim: ‘Está havendo uma rebelião e nós fomos acionados e eles estão querendo alguém dos direitos humanos’”, disse Baía.

“Quando eu cheguei no presídio, já estavam lá, o deputado Flávio Bolsonaro e o deputado Jair Bolsonaro. Eu conversei com os dois, mais com o Flávio do que com o Jair, o Flávio era deputado estadual e nós tínhamos uma relação grande porque o Flávio acompanhava os inquéritos”, conta o profissional. Na opinião do sociólogo, o episódio foi montado. “Eu quero frisar que esta rebelião é uma falsa rebelião, é um circo armado para projetar Flávio Bolsonaro”.

Em depoimento ao MP-RJ, Flávio Bolsonaro disse à promotoria que conheceu Adriano Nóbrega nos anos 2000, por intermédio de seu assessor Fabrício Queiroz, durante aulas de tiro. Até 2018, Flávio e Carlos entregaram medalhas e moções a 707 pessoas, das quais algumas foram premiadas mais de uma vez. De cada dez pessoas que Flávio e Carlos homenagearam, uma respondeu a processo criminal na Justiça, segundo a reportagem de Juliana Dal Piva.

Segundo nota de Jair Bolsonaro e do senador Flávio ao UOL, “ao longo de anos na política, sempre fizemos homenagem a policiais que se destacaram pelos serviços prestados à população. À época das homenagens, era impossível prever que alguns desses policiais pudessem desonrar a farda”.

“Sobre o trabalho feito junto à Unidade Prisional da Polícia Militar, as ações foram públicas e amplamente divulgadas. Como a própria reportagem mostra, trabalhamos para resolver um conflito e evitar que a situação se desdobrasse em algo mais grave. Trabalhar para resolver uma crise e evitar prejuízos ao Estado não configura irregularidade, pelo contrário”, conclui a nota de Jair Bolsonaro.

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