Bolsonaristas usam falsas notícias para tentar reduzir voto católico em Lula
Sem ter o que mostrar de ação efetiva do seu governo e vendo que as medidas eleitoreiras recentes não surtiram o efeito esperado nas pesquisas de intenção de voto, Jair Bolsonaro (PL) e sua campanha apostam na velha fórmula do ataque e das fake news, tão cara ao presidente e seus apoiadores, para tentar desgastar seu principal oponente. Um dos focos dessa estratégia, acentuada nos últimos tempos, é procurar colar no ex-presidente Lula (PT) a falsa imagem de perseguidor de religiosos. E dessa vez, Bolsonaro tenta mirar os católicos, grupo no qual o petista tem larga vantagem.
“Antes terceirizada, a ofensiva saiu das redes sociais de aliados de Bolsonaro e foi incorporada por Bolsonaro. A ordem é repetir que Lula vai perseguir católicos no Brasil”, escreveu o colunista do jornal O Estado de S.Paulo, Felipe Frazão.
Em entrevista recente ao programa do Ratinho, do SBT, Bolsonaro seguiu justamente nessa toada, procurando associar Lula ao governo da Nicarágua para tentar, novamente, suscitar o medo dos católicos com relação ao petista. “O ex-presidente, que é candidato, falou que cada presidente pode fazer o que bem entender no seu país. Não é bem assim, não. Se está perseguindo católicos lá é sinal que ele pode fazer o mesmo aqui no Brasil. Pode não, vai fazer, porque ele disse que vai botar no seu devido lugar padres e pastores no Brasil, caso chegue a presidente. E, mais grave, vai legalizar o aborto, vai legalizar as drogas e manter a política terrível conhecida com ideologia de gênero”, disse.
A afirmação não encontra lastro na realidade, mas para quem opera na frequência da pós-verdade e da disseminação de mentiras, isso pouco importa. E Bolsonaro sabe que parte do eleitorado é permeável a esse tipo de discurso. Além da ladainha de que o ex-presidente fecharia igrejas, o bolsonarismo aposta também numa suposta perseguição a padres e pastores — coisa que, aliás, nunca passou nem perto de acontecer durante os mandatos de Lula e Dilma Rousseff.
Aos fatos
Muitas dessas fake news foram desmentidas por agências de checagem, mas as redes seguem sendo terreno fértil para mentiras. Uma delas, verificada pela agência Lupa, dizia respeito a um meme dizendo que Lula iria “taxar igrejas”, calar “pastores e padres” e “acabar com a família instituída por Deus”.
“A informação analisada pelaLupa é falsa. Não foram encontrados registros públicos em que Lula tenha feito tais afirmações. Em seu programa de governo também não há propostas que envolvam taxar igrejas, calar religiosos ou ‘acabar’ com a família”, apontou a agência.
Vale destacar que em seu programa de governo, Lula defende “os direitos civis, garantias e liberdades individuais, entre os quais o respeito à liberdade religiosa e de culto e o combate à intolerância religiosa, que se tornaram ainda mais urgentes para a democracia brasileira. Vamos enfrentar e vencer a ameaça totalitária, o ódio, a violência, a discriminação e a exclusão que pesam sobre o nosso país, em um amplo movimento em defesa da nossa democracia”.
Ao anunciar apoio nesta semana a Lula, a ex-ministra Marina Silva declarou: “Você não pode dizer que se Lula ganhar ele vai fechar igreja. Ele foi presidente por dois mandatos e não existe uma igreja que tenha sido fechada por ele. Muitos desses pastores que agora mentem dizendo isso viviam lá no Palácio fazendo oração com Lula”.
Outra importante liderança que também defendeu o ex-presidente foi o padre Júlio Lancellotti. “Lula não fecha igrejas, Lula abre o coração”, disse, em evento com beneficiários do Sistema Único de Assistência Social (Suas), em São Paulo, no início do mês.
Intenção de votos
O empenho em tentar aumentar a rejeição de Lula entre pessoas religiosas, especialmente entre católicos, onde ele tem a maioria, e evangélicos, onde tem conseguido ampliar sua participação, reflete claramente o temor de que as eleições sejam decididas no primeiro turno.
Pesquisa Datafolha, divulgada nesta quinta-feira (15), mostrou que Lula reduziu sua distância em relação a Bolsonaro entre os evangélicos. Lula saiu de 28% para 32% entre as pesquisas dos dias 8 e 9 e a mais recente, feita entre 13 e 15 de setembro. Bolsonaro, que tinha 51%, passou para 49%.
Entre os católicos, Lula variou de 54% para 51% e Bolsonaro saiu de 27% para 28%. A margem de erro é de três pontos percentuais para o primeiro grupo e de dois para o segundo. Ao todo, o país tem 56% do eleitorado se declarando católico e 27% de evangélicos, de acordo com o mesmo instituto.