"Bloqueio dos EUA contra Cuba viola Carta da ONU", afirma o chanceler cubano Bruno Rodriguez (Evan Schneider/ONU)

“O governo dos Estados Unidos está reforçando a pressão sobre governos, instituições bancárias e empresas de todo o mundo interessadas em se relacionar com Cuba e está buscando todas as fontes de receita em moeda estrangeira no país para causar o seu colapso. O bloqueio é um ato de guerra econômica”, denunciou o chanceler cubano Bruno Rodríguez, durante discurso na 77ª sessão da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU).

Conforme o chanceler, a gravidade do bloqueio econômico, comercial e financeiro imposto pelos Estados Unidos (EUA) à ilha tem por objetivo prejudicar o bem-estar de cada um dos seus mais de 11 milhões de habitantes, e que “persiste o esforço para gerar penúrias materiais, sofrimentos, semear desânimo, insatisfação e causar danos ao povo cubano”.

Mas, apesar disso, declarou Bruno Rodríguez, “Cuba continuará levantando sua voz para rejeitar a dominação e o hegemonismo, as medidas coercitivas unilaterais, os bloqueios genocidas e a pretensão de impor ao mundo uma cultura e um modelo únicos”. “Jamais desistiremos da defesa da independência, soberania e autodeterminação dos povos, sem ingerência ou intervenção estrangeira”, acrescentou.

O ministro das Relações Exteriores cubano apontou ainda que “o atual governo dos Estados Unidos mantém em vigor as medidas de pressão mais agressivas contra nosso país adotadas pela administração do presidente Donald Trump”, que havia apertado o bloqueio com mais de 240 ações para subverter a ordem interna, criar uma situação de ingovernabilidade e tentar derrubar a Revolução.

Para Bruno Rodríguez, a inclusão e manutenção de Cuba na lista de países patrocinadores do terrorismo de Estado representa um completo disparate, pois é precisamente o país que foi vítima de tão odioso crime, por isso “não promove e nunca promoverá o terrorismo, pelo contrário, nós o condenamos em todas as suas formas e manifestações”.

O chanceler também alertou para a campanha de propaganda por parte dos EUA, com a manipulação da opinião pública e da comunidade internacional, que se utiliza abertamente de temas “altamente sensíveis como terrorismo, religião, democracia, justiça, corrupção e direitos humanos”.

“Alertamos claramente ao governo dos EUA que os fatores que incentivam a migração irregular e causam perda de vidas devem ser resolvidos, como o descumprimento, desde 2017, da obrigação de conceder nada menos que 20.000 vistos anuais aos cubanos, a existência da lei de ajuste cubana, as pressões restritivas sobre os países de trânsito regular e o reforço do bloqueio econômico”, acrescentou.

“O anúncio de hoje de que o processamento de vistos de migrantes retornará à Embaixada dos EUA em Havana é um passo positivo. Cuba reitera sua disposição de avançar para um melhor entendimento com o Governo dos Estados Unidos e de desenvolver relações civilizadas e até cooperativas entre os dois países, baseadas no respeito mútuo, na igualdade soberana e sem comprometer nossa independência e soberania, apesar das profundas diferenças”, prosseguiu o chanceler.

“Apesar dos enormes desafios, o povo e o governo cubanos não desistiram de seus esforços para avançar na construção de uma sociedade socialista mais justa, próspera, democrática e sustentável”, assinalou Bruno Rodríguez, destacando a marca de superação de homens e mulheres que têm apontado caminhos para o continente e a humanidade.

Rodríguez reiterou que Cuba continua trabalhando para melhorar a vida econômica e social do país, transformando e melhorando suas comunidades com a sustentação e expansão de seus programas sociais, mas sempre solidários ao mundo, a quem mais necessita.

Entre outros exemplos, citou, “derrotamos o Covid 19 com recursos e vacinas próprios e com a força do nosso sistema de saúde pública e ciência”. “Conseguimos colaborar enviando 58 brigadas médicas para 42 países e territórios”, comemorou, ao mesmo tempo que refletiu sobre o impacto da pandemia, que mostrou mais do que nunca quão injusta e insustentável é a ordem global vigente.

O fato, protestou, é que “quase 6,5 milhões de pessoas morreram devido à pandemia de COVID-19. As vacinas para combatê-la são inacessíveis a um bilhão de pessoas em países de baixa renda. Em 2021, as multinacionais farmacêuticas faturaram US$ 84,588 bilhões”.

“Nunca antes a humanidade teve esse formidável potencial técnico-científico, nem essa extraordinária capacidade de gerar riqueza e bem-estar, e nunca antes o mundo foi tão desigual e a desigualdade tão profunda”, argumentou Rodríguez, citando que em 2022 “o desemprego afetará 207 milhões de pessoas, 21 milhões a mais do que em 2019”, com 773 milhões de seres humanos sem saber ler nem escrever.

Após avaliar a forma com que se multiplica o número de miseráveis e desempregados, o diplomata chamou a atenção para como, paradoxalmente, cresce também o investimento dos Estados na indústria bélica.

Além disso, convocou o planeta para uma ação mais cuidadosa com o meio ambiente, porque os verões estão se tornando mais intensos, as secas mais graves, os fenômenos mais catastróficos e o mundo, especialmente as potências mais desenvolvidas, ignoram esses sinais.

“EUA TENTAM IMPOR SUAS REGRAS”

“As relações internacionais estão em um caminho muito perigoso. A ofensiva norte-americana visa subjugar os Estados por meio de ameaças e coerções econômicas, militares, políticas e diplomáticas, para submetê-los a uma ordem baseada em suas caprichosas regras”, enfatizou Rodríguez, lembrando que diante disso e da expansão da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), guerra não convencional e outras, Cuba pediu “unidade dentro da diversidade”.

Nesse sentido, o ministro citou como exemplo os países da América Latina e do Caribe que, por meio da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC), conseguiram integrar-se a uma organização que se fortalece e cria condições para a região avançar “para formas superiores de integração e cooperação”.

Cuba também manifestou enfaticamente sua solidariedade com países como Venezuela, China, República Popular Democrática da Coréia, Irã, Síria e Nicarágua devido a sanções unilaterais, campanhas de descrédito e ataques de todos os tipos perpetrados ou planejados pelos EUA. E também reforçou o seu apoio à Argentina, Palestina e República Árabe Saharaui Democrática em sua luta pela integridade territorial, apoiou a paz na Colômbia e a uma solução pacífica e diplomática para o conflito na Ucrânia.

“Por nosso passado glorioso, pelo presente e futuro das novas gerações de cubanos, com a liderança do presidente Miguel Díaz-Canel, resistiremos criativamente e lutaremos sem descanso até alcançar nossos sonhos de paz e desenvolvimento, com equidade e justiça social para Cuba e para o mundo”, concluiu Rodríguez.

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