Embaixador russo Nebenzia expôs na ONU o perigo de catástrofe pelos ataques de Kiev à central nuclear (Mary Altefer/AP)

A Rússia divulgou na terça-feira (23) na reunião de emergência convocada a pedido de Moscou do Conselho de Segurança da ONU, bem como à Assembleia Geral, evidências fotográficas do bombardeio da usina nuclear de Zaporozhia pelo exército ucraniano, informou o embaixador russo na organização, Vasily Nebenzia.

“Quero mostrar a vocês as fotos da destruição no território da usina nuclear de Zaporozhia como resultado do bombardeio das Forças Armadas da Ucrânia. Temos uma coleção completa de evidências fotográficas, as distribuímos esta manhã como documentos oficiais no Conselho de Segurança e na Assembleia Geral da ONU”, disse o diplomata russo.

A usina nuclear de Zaporozhia, construída pela União Soviética e a maior da Europa, está localizada perto da cidade de Energodar, com seis reatores de água pressurizada e capacidade de geração de 6.000 MW. Desde março passado, a usina está sob proteção dos militares russos e é operada por técnicos ucranianos.

Moscou também instou à ida – afinal – dos inspetores da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), que chegou a ser marcada para o início de junho e foi desmarcada por pressão dos patronos ocidentais de Kiev. “Chegamos a elaborar a rota e o programa de verificação de segurança da central nuclear, no último minuto tudo foi cancelado”, detalhou Nebenzia.

“Esperamos que a missão da AIEA ainda seja realizada em um futuro próximo, e os especialistas da Agência possam confirmar a real situação da usina nuclear. Estamos prontos para fornecer o máximo de assistência possível em relação a todas as questões organizacionais”, concluiu o diplomata russo.

Nebenzia também solicitou ao Conselho de Segurança da ONU que condenasse fortemente “esse último crime do regime de Kiev”, o assassinato da jornalista e cientista política Daria Dugina, filha do pensador russo Alexander Dugin.

Nebenzia advertiu que a situação de segurança nuclear na usina de Zaporozhia se deteriorou nas últimas semanas e acusou o Exército ucraniano de realizar o bombardeio quase diariamente, ação que cria “um risco real de um acidente com radiação na usina nuclear com consequências catastróficas para todo o continente europeu”.

Na semana passada, porta-voz militar russo revelou que desde 18 de julho a usina nuclear foi alvo de 12 ataques de sistemas múltiplos de foguetes, artilharia e drones, com cerca de 50 explosões atingindo as imediações das instalações e causando danos.

Um desses ataques foi com artilharia de 152 mm – contra uma usina nuclear! –, insânia cometida pela 44ª Brigada de Artilharia ucraniana, que danificou parcialmente a planta de energia térmica para as próprias necessidades da central, assim como os equipamentos das piscinas do sistema de refrigeração dos reatores nucleares. Segundo a AIEA, a usina nuclear de Zaporozhia armazena 30 toneladas de plutônio e 40 toneladas de urânio enriquecido, que são resíduos da operação dos seus seis reatores.

A Rússia tem denunciado que o regime de Kiev está fazendo toda a Europa de “refém” de seus ataques: para que ocorra um Fukushima 2.0, basta interromper a canhonaços o fornecimento de energia para refrigeração dos dejetos irradiados.

O que poderia levar à contaminação radioativa de vastas extensões de território: pelo menos oito regiões ucranianas, incluindo a sua capital, Kiev, e alguns territórios da Rússia e da Bielorrússia que fazem fronteira com a Ucrânia. Também são susceptíveis o Donbass, Moldávia, Romênia e Bulgária. Se o vazamento atingisse o rio Dnieper, a devastação se estenderia ao Mar Negro.

No caso de impacto no próprio reator, a contaminação radioativa atingiria Polônia, Alemanha, Eslováquia, Romênia, Moldávia, países bálticos e escandinavos.

Proposta temerária

Nebenzia também rebateu proposta dos patrocinadores ocidentais do regime de Kiev para uma zona desmilitarizada em torno da usina, o que classificou de declaração “irresponsável” por não levar em conta a necessidade de manter “a operação segura” da usina nuclear – além de garantir a segurança diante de óbvias ameaças terroristas.

“Mais uma vez, pedimos que parem de encobrir seus peões de Kiev e passem a encorajá-los a que parem com os ataques imprudentes à usina nuclear, que ameaçam um incidente nuclear e contaminação radioativa em países europeus”, ressaltou o diplomata russo.

Ele acrescentou que a Rússia está disposta a fornecer à Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) provas de que seu exército não está armazenando armas pesadas no território da usina.

Após um recente bombardeio, o chefe da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Rafael Grossi, alertou que as operações de guerra na área implicam “um perigo muito real de catástrofe nuclear”. Por sua vez o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, disse que causar qualquer dano à central nuclear equivale a um ato “suicida”, ao mesmo tempo em que segue apregoando a ‘desmilitarização’ como solução.

Enquanto isso, o regime de Kiev, com a cumplicidade da mídia alistada ao Pentágono/OTAN, tem insistido na versão inteiramente cínica e sem pé nem cabeça de que é a Rússia que dispara contra a usina nuclear, contra a cidade que a abriga (Energodar) e contra seus próprios militares que protegem a central nuclear e a cidade. Como sublinhou Nebenzia em reunião anterior do CS, “a lógica elementar nos diz que nossos militares não têm motivos para bombardear a usina, a cidade ou a si mesmos”.

AIEA pronta para ir a Zaporozhia

O diretor da AIEA, Rafael Mariano Grossi, disse esperar que essa “missão vital” – a visita à usina nuclear de Zaporozhia – “possa ocorrer sem mais delongas”, após informar que está fazendo consultas muito ativas e intensivamente com todas as partes para isso.

Sobre os ataques de artilharia contra a instalação, Grossi acrescentou que tais incidentes “mostram porque a AIEA deve ser capaz de enviar uma missão à usina nuclear de Zaporozhia muito em breve”.

A presença da AIEA “ajudará a estabilizar a situação de segurança e proteção nuclear no local e a reduzir o risco de um grave acidente nuclear na Europa”, enfatizou.

“Espera-se que a missão ocorra nos próximos dias se as negociações em andamento forem bem sucedidas”, concluiu.

A China manifestou no Conselho de Segurança da ONU seu apoio à visita da AIEA à usina nuclear de Zaporozhia “o quanto antes”. “Esperamos que todas as partes envolvidas eliminem os obstáculos políticos e cheguem a um acordo sobre o momento e os detalhes da visita o mais rápido possível, para que a missão da AIEA possa ser realizada em tempo hábil”, salientou o embaixador Geng Shuang. Ele se disse “desconcertado” que a usina nuclear “ainda esteja sob bombardeio nos últimos dias”.

“Não há espaço para tentativas e erros quando se trata da segurança e proteção das instalações nucleares. Qualquer incidente pode levar a um grave acidente nuclear com consequências irreversíveis para o ecossistema e a saúde pública

da Ucrânia e de seus países vizinhos”, acrescentou. “Não devemos permitir que as tragédias dos acidentes nucleares de Chernobyl e Fukushima se repitam”.

Geng concluiu pedindo que o risco seja enfrentado com “racionalidade”, “espírito humanitário” e indo “além das considerações militares” e reiterou a posição da China de busca de uma resolução adequada da crise da Ucrânia e de que sejam alcançadas “paz e estabilidade duradouras na região”.

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