Retomada da indústria manufatureira é desafio para o próximo governo
Com um milhão de empregos perdidos pela indústria brasileira na última década, o processo de reindustrialização brasileiro, um dos principais desafios para o próximo governo, passará também pela retomada dos investimentos na indústria manufatureira, que abrange desde a transformação do aço em máquinas e ferramentas até a produção agroindustrial do açúcar a partir da cana, passando pela fabricação de bens de consumo como automóveis e roupas.
O peso da indústria manufatureira no Produto Interno Bruto (PIB) caiu de 15,9% em 2005 para 11,9% em 2021, segundo dados das Nações Unidas, do Fundo Monetário Internacional e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) publicados pelo Valor Econômico. Em 2008, o investimento na indústria de transformação como percentual do investimento total na economia era de 28% – dez anos depois, havia caído a 15%.
Menos postos de trabalho
Os dados que compõem a Pesquisa Industrial Anual (PIA) Empresa, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), também denotam o processo de desindustrialização brasileiro – que, na ausência de um projeto de desenvolvimento econômico para o país, não se reverte no governo Bolsonaro. Na comparação de 2019 com 2011, a perda foi de 2,865 mil empresas (-0,9%). Desde 2013, ponto mais alto da série de 10 anos, a redução foi de 9,4% (31,4 mil empresas). Em 2020 o setor industrial ocupava 7,7 milhões de pessoas, das quais 97,4% operavam nas indústrias de transformação. Frente a 2013, houve uma perda de 15,3% das vagas.
“A indústria manufatureira sofre de um gravíssimo problema de competitividade. Isso vai além do preço e é decorrente do atraso tecnológico da indústria de transformação. Foram anos e anos de baixo investimento, que a está deixando para trás”, afirmou em entrevista ao Valor Econômico, o professor de Economia da UnB José Luis Oreiro, para o qual, no processo de reindustrialização, o Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES) assumiria novamente o protagonismo como financiador de longo prazo em um programa de atualização de tecnologia, com juros subsidiados e contrapartidas como aumentar as exportações e fazer a transição para uma economia de baixo carbono.
Ainda segundo ele a desindustrialização brasileira é ruim porque é prematura, ocorre antes que se alcance o que na literatura se chama ponto de Lewis, em que o desenvolvimento econômico se dá em condições de oferta limitada de mão de obra. “Seria diferente se a desindustrialização aqui ocorresse com a maioria da população trabalhando no setor moderno, que seria hoje o de serviços de alta tecnologia, como fazem empresas como a Amazon”, comparou.
Na opinião de Oreiro, a única chance de gerar empregos e fomentar o crescimento é reindustrializando o país: “O primeiro passo para isso é um programa de modernização da indústria brasileira. Isso não é política para um mandato de governo, mas de Estado. Ou seja, não caberá apenas ao próximo governante. A sociedade brasileira precisa se conscientizar que com boi, soja e minério de ferro não vamos dar emprego decente para uma força de trabalho de 110 milhões de pessoas. Temos de fazer essa reforma estrutural”.
Com informações do Valor Econômico