Rafael Grossi, diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica chefia missão a Zaporozhia (vídeo)

Já partiu de Viena a missão da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) de apoio e assistência à central nuclear de Zaporozhia (ZNPP), a maior da Europa, anunciou a organização em comunicado na segunda-feira (29). A missão é liderada pelo diretor-geral Rafael Grossi e integrada por inspetores e especialistas, após ser bloqueada em junho por pressão de Washington.

O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, saudou a ida da equipe da AIEA e disse que a Rússia irá assegurar a segurança da missão. Ele também convocou outros países a “aumentarem a pressão sobre o lado ucraniano para forçá-lo a parar de ameaçar o continente europeu bombardeando o território da central nuclear de Zaporozhia”.

De acordo com a agência de notícias TASS, a missão irá até Kiev e na quarta-feira deverá estar na central nuclear. “A missão de apoio e assistência da AIEA já está a caminho. Tenho orgulho de liderar esta missão”, registrou Grossi nas redes sociais.

No último mês, têm sido quase diários os ataques com artilharia pesada, drones e lançadores de foguetes múltiplos do regime de Kiev contra a central nuclear, o que a Rússia já denunciou como “terrorismo nuclear” e tentativa de “fazer os europeus de reféns” da repetição dos desastres de Fukushima ou Chernobyl.

Uma insanidade completa, que o próprio secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, classificou de “suicida”. A ZNPP está desde março sob controle russo e sob operação de técnicos ucranianos. O que não impede Kiev de cinicamente mentir que seriam os “russos” que estariam bombardeando a ZNPP sob controle russo [desde março], fake news endossada por Washington, Londres e Bruxelas.

Conforme a AIEA, os inspetores e especialistas da missão irão avaliar os danos físicos causados à central nuclear e verificar os sistemas de segurança e proteção da instalação. Também enfocarão as condições do pessoal na fábrica e medidas urgentes que se façam necessárias.

Em entrevista à TV russa no domingo, a porta-voz da chancelaria, Maria Zakharova, disse que foi Moscou que insistiu na visita da AIEA e que “tinha feito tudo que era possível para que ocorresse”. Como assinalou o embaixador russo na ONU, Vasily Nebenzia, no início de junho “chegamos a elaborar a rota e o programa de verificação de segurança da central nuclear, no último minuto tudo foi cancelado”.

A ZNPP fica na cidade de Enerdogar, no sul, junto ao rio Dniepr, e as tropas russas e aliadas ali posicionadas participam da operação especial de desnazificação e desmilitarização da Ucrânia e de proteção dos direitos da população de fala russa das repúblicas do Donbass. Desencadeada diante de iminente blitzkrieg do exército ucraniano, com apoio da OTAN, contra as repúblicas populares do Donbass, que resistiram ao golpe de 2014 CIA-nazis em Kiev.

Artilharia contra uma central nuclear

Na véspera da partida da missão da AIEA, o regime de Kiev voltou a usar artilharia pesada contra a central nuclear e arredores e um drone kamikaze (com carga explosiva) foi abatido. O ataque ucraniano causou um rombo no teto do edifício especial 1, onde é armazenado o combustível para reatores pronto para ser usado. Só o trabalho coordenado dos militares russos e dos operadores da central ucranianos, dia e noite, têm evitado um desastre radioativo.

A ZNPP chegou a ser atacada pelas forças de Zelensky 17 vezes em um único dia. Quando as negociações da AIEA para a rota de acesso segura à central nuclear já estavam adiantadas, no dia 25 o regime de Kiev lançou dois ataques de artilharia pesada, fazendo com que quatro projéteis explodissem na área da estação de oxigênio-nitrogênio, e outro próximo à área especial nº 1.

Como advertira o embaixador russo Vasily Nebenzia na semana passada na reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU, o bombardeio quase diário cria “um risco real de um acidente com radiação na usina nuclear com consequências catastróficas para todo o continente europeu”.

Nebenzia alertara que um vazamento de radiação provocado por esse tipo de ataque poderia levar à contaminação radioativa de vastas extensões de território: pelo menos oito regiões ucranianas, incluindo a sua capital, Kiev, e alguns territórios da Rússia e da Bielorrússia que fazem fronteira com a Ucrânia. Também são susceptíveis o Donbass, Moldávia, Romênia e Bulgária.

Se o vazamento atingisse o rio Dniepr, a devastação se estenderia ao Mar Negro. No caso de impacto no próprio reator, a contaminação radioativa atingiria Polônia, Alemanha, Eslováquia, Romênia, Moldávia, países bálticos e escandinavos.

A ZNPP tem seis reatores nucleares, sendo que dois seguem operando. Também armazena 30 toneladas de plutônio e 40 toneladas de urânio enriquecido, que são resíduos da operação dos seus reatores. Para que ocorra um Fukushima 2.0,

basta interromper a canhonaços o fornecimento de energia para refrigeração dos dejetos irradiados. Até a semana passada, segundo porta-voz militar russo, a área da ZNPP havia sido atingida por 50 explosões.

Um integrante da administração regional provisória de Zaporozhia, Vladimir Rogov, disse ao portal Sputnik que a situação na ZNPP está controle e que a radiação está em níveis normais e denunciou que nos ataques o regime usa armas fornecidas pelos EUA. Ele disse que dezenas de milhares de moradores locais assinaram uma carta aberta à liderança da AIEA, que indica claramente quem e de onde está atirando na cidade.

Rogov acrescentou que autoridades de Londres, Washington e Varsóvia deveriam ser responsabilizadas como cúmplices de crimes regime de Kiev “ao menos em relação ao ZNPP”.

Para o líder dos comunistas russos, Gennady Ziuganov, “o bombardeio de usina nuclear por nazis de Kiev é encomenda dos EUA”. “Uma catástrofe na usina nuclear de Zaporozhya é benéfica apenas para os Estados Unidos” – acrescentou -, que estão vendo sua dominação sobre o mundo “irrevogavelmente acabando”.

Lógica elementar

No CS, o embaixador Nebenzia rebateu ainda uma proposta dos patrocinadores ocidentais do regime de Kiev para uma “zona desmilitarizada” em torno da usina, que classificou de “irresponsável” por não levar em conta a necessidade de manter “a operação segura” da usina nuclear – além de ignorar óbvias ameaças terroristas.

Quanto às acusações sem pé nem cabeça de Kiev contra a Rússia em relação à ZNPP, o embaixador russo na ONU salientou que “a lógica elementar nos diz que nossos militares não têm motivos para bombardear a usina e a cidade que protegem ou a si mesmos”.

Nessa reunião do CS, a Rússia divulgou fotos dos danos causados pelos ataques ucranianos à ZNPP e provou com mapas que estes procediam das áreas sob controle de tropas de Kiev.