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A manutenção por Bolsonaro da atual política de preços da Petrobras, em que a população paga na bomba os custos da variação do dólar, levou a empresa a tornar-se a campeã mundial de dividendos distribuídos aos acionistas no segundo trimestre de 2022. De acordo com a 35ª edição do Índice Global de Dividendos da gestora Janus Henderson, a petrolífera brasileira distribuiu US$ 9,7 bilhões em proventos referentes ao segundo trimestre ante US$ 1 bilhão no mesmo período do ano passado.

O relatório analisa, trimestralmente, as 1.200 maiores empresas do mundo por capitalização de mercado, que representam 90% dos dividendos pagos globalmente. A petrolífera é a única empresa brasileira a figurar na lista das 10 maiores pagadoras de dividendos. A mineradora Vale, que no trimestre anterior ocupava a nona posição, não consta mais do topo do ranking. Também fazem parte da lista da Janus Henderson a Nestlé, a Rio Tinto, a China Mobile, a Mercedes-Benz, o BNP Paribas, a Ecopetrol, a Allianz, a Microsoft e a Sanofi.

Venda de ativos

No primeiro semestre, os dividendos distribuídos pela Petrobras somam US$ 27,2 bilhões. Em fio em suas redes sociais, o pesquisador do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (Ineep) Eduardo Costa Pinto calculou que o valor é maior do que todas as seis maiores petroleiras integradas do ocidente distribuíram juntas. “Em um único semestre, a companhia vai distribuir 31,7% do seu valor de mercado, proporção dez vezes superior à média das maiores petroleiras integradas do ocidente”, apontou o pesquisador, ressaltando que a liderança da Petrobras na distribuição de dividendos caminha lado a lado com os baixos montantes de investimentos, de US$ 4,1 bilhões, valor que representou apenas 15% dos dividendos distribuídos no primeiro semestre.

“Esse menor investimento da Petrobras é fruto de uma estratégia deliberada, em curso desde 2016, de focalizar os investimentos na exploração e produção de petróleo no pré-sal e da venda de ativos em outras áreas. Entre 2016 e 2022, a companhia vendeu cerca de 48 ativos, tais quais campos de petróleo, BR Distribuidora, NTS, TG e RLAM, que proporcionaram receita de R$ 153 bilhões (deflacionados pelo IPCA). No Governo Bolsonaro, R$ 104 bilhões entraram no caixa da Petrobras com a venda de ativos.

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Além de ter deixado de investir, o governo Bolsonaro elaborou uma proposta de privatização da empresa que foi criticada pela própria Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN), ligada ao Ministério da Economia, que considerou a proposta uma espécie de doação aos investidores. “A estratégia de distribuição de dividendos, além de atender a interesses eleitoreiros do governo Bolsonaro/Guedes – o governo federal receberá US$ 9,4 bilhões -, beneficia os acionistas privados nacionais e internacionais que receberão US$ 17,8 bilhões, proporcionando enorme rentabilidade”, destacou Eduardo Costa Pinto.