Após ataque de Bolsonaro a Boric, Chile convoca embaixador do Brasil
Mais uma vez, o presidente Jair Bolsonaro (PL) criou grave constrangimento ao Brasil após declaração dada durante o debate com candidatos à presidência, realizado por um conjunto de veículos de comunicação neste domingo (28). Na ocasião, ele acusou falsamente o atual presidente do Chile, Gabriel Boric, de ter ateado fogo em metrôs, em alusão aos protestos ocorridos em 2019. O resultado foi a convocação do embaixador brasileiro pelo governo chileno para consulta em protesto sobre o ocorrido.
A chanceler chilena Antonia Urrejola classificou as declarações como “falsas” e “gravíssimas”. Em nota, a chancelaria destacou ainda que as falas “são inaceitáveis e não estão de acordo com o tratamento respeitoso devido aos chefes de Estado ou com as relações fraternas entre dois países latino-americanos”.
A nota continua dizendo que “a utilização política da relação bilateral com fins eleitorais, com base em mentiras, desinformação e deturpações erosiona não apenas o vínculo entre nossos países, mas também a democracia, prejudicando a confiança e afetando a irmandade entre os povos”.
Apesar das diferenças ideológicas entre os dois governantes, a chancelaria chilena afirmou o desejo do país vizinho de manter boas relações entre as duas nações. Por fim, a nota aponta que “apesar das declarações infelizes, o governo do Chile manifesta sua convicção de que o nosso país e o Brasil têm não apenas uma História comum, mas também enormes desafios para enfrentarem de maneira colaborativa, razão pela qual espera continuar a fortalecer os permanentes vínculos de amizade e cooperação entre nossos países.”
O ataque feito por Bolsonaro foi mais um dos que costuma desferir contra governantes de esquerda. No debate, além de se referir de maneira pejorativa a outros governos vizinhos — como os da Argentina, Colômbia e Venezuela —, afirmou: “Lula apoiou o presidente do Chile também, o mesmo que praticava atos de tocar fogo em metrôs lá no Chile. Para onde está indo o nosso Chile?”.
O fato mencionado por Bolsonaro, no entanto, não é verdadeiro. Gabriel Boric, que foi líder estudantil, era deputado e atuou como um dos principais mediadores entre os manifestantes de outubro de 2019 e o parlamento do país, quando estouraram os protestos que inicialmente reclamavam do aumento da tarifa do metrô, mas logo se tornaram mais amplos, contestando o governo do direitista Sebastián Piñera.
Os atos resultaram num histórico movimento social em defesa de reformas e de uma nova constituinte, desaguando na eleição de Boric, jovem político de esquerda, rompendo assim com 30 anos de governos de centro e direita que ocuparam o poder desde o fim da ditadura de Augusto Pinochet, em 1990.