RS enfrenta impactos do pior desastre natural em 40 anos
O Rio Grande do Sul enfrenta impactos dramáticos do que vem sendo considerado o maior desastre natural dos últimos 40 anos no estado. Até o momento, foram contabilizadas 31 mortes, mais de 3 mil desalojados e 2,3 mil desabrigados após as fortes chuvas que caíram sobre o estado nos últimos dias. Estima-se que 18,5 mil pessoas tenham sido afetadas diretamente pelo temporal, e mais de 2,5 milhões indiretamente.
Pelo menos 15 corpos foram encontrados no município de Muçum, região Central do estado, e seis em Roca Sales. Também houve mortes em cidades da região Norte, como Estrela, Lajeado, Mato Castelhano, Passo Fundo e Ibiraiaras. A água inundou casas e estabelecimentos, levando desespero para a população. Áreas de Santa Catarina também foram afetadas.
Ao todo, mais de 60 municípios dos dois estados da região Sul foram atingidos. Diversas localidades ficaram isoladas, com dificuldades inclusive de comunicação devido à falta de luz e de sinal de telefonia e internet. Estradas e pontes ficaram submersas ou foram destruídas e pessoas ainda estão sendo resgatadas de locais de difícil acesso. No caso de Muçum, o que mais sofreu com as chuvas, a Defesa Civil informou que 85% do território ficou inundado. Ao menos 250 pessoas que foram contatadas por familiares e não retornaram até o momento.
Atenção ao RS
Pelas redes sociais, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que conversou, na manhã desta quarta-feira (6), com o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, e reforçou que “o governo federal está à disposição dos gaúchos para enfrentar essa crise”. Nesta terça (5), o presidente também prestou solidariedade à população do RS e declarou: “Faremos de tudo para ajudar a população gaúcha a atravessar esse momento”.
Uma comitiva do governo federal esteve no RS nesta quarta-feira (6) para acompanhar de perto as ações e auxiliar para que os planos de trabalho das prefeituras sejam agilizados. A administração federal mobilizou botes do Exército da região da fronteira, helicópteros da Polícia Rodoviária Federal e das Forças Armadas, além de tomar medidas para garantir abrigo, segurança, água potável e alimentação.
Entre os presentes na comitiva estavam os ministros Waldez Goés, do Desenvolvimento Regional, e Paulo Pimenta, da Secretaria de Comunicação, acompanhados do governador. Segundo Pimenta, o governo federal aguarda a apresentação de um plano emergencial por parte dos municípios para disponibilizar os recursos necessários à reconstrução dos locais atingidos.
Ainda nesta quarta-feira, o governador anunciou que será decretado estado de calamidade pública a fim de agilizar a liberação de recursos para socorrer o Rio Grande do Sul. “Isso nos toca e dói muito, mas estamos firmes aqui para dar todo o suporte necessário”, disse.
Os relatos do drama vivido nos últimos dias são, de fato, impactantes. Pessoas sofrem com a perda de parentes ou a falta de contato e a agonia por não saber onde estão. Uma mulher grávida perdeu a vida após o cabo do helicóptero que a resgatava no rio Taquari arrebentar. Animais foram encontrados pendurados em fiações elétricas. Também avolumam-se os prejuízos materiais — uma vida inteira de trabalho levados água abaixo em minutos; carros e casas inteiras foram arrastadas pelas enxurradas.
Condições climáticas
Este foi o quarto ciclone extratropical que atingiu o estado desde junho. Naquele mês, um deles também causou forte destruição e ao menos 16 mortes. Esses fenômenos, que trazem fortes chuvas e fazem transbordar córregos e rios, em geral são provocados por uma junção de fatores, que somam-se a problemas sociais e estruturais e acabam piorando os efeitos das chuvas, principalmente para populações mais vulneráveis.
“A causa da chuva foi uma frente fria estacionária, por isso choveu no fim de semana inteiro. Na segunda-feira, coincidiu uma área de baixa pressão na alta atmosfera. Essa combinação derivou na formação de um ciclone extratropical, que rapidamente se encaminhou para o oceano. Ou seja, ele foi a consequência e não a causa da chuva”, disse à BBC Brasil o meteorologista Marcelo Seluchi, coordenador-geral de operações e modelagem do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden). Além disso, há os efeitos do El Niño, que aumenta as chuvas no Centro-Sul do país e secas no Norte, Nordeste e parte do Centro-Oeste.
Embora não seja consensual, há especialistas que apontam ainda a possível relação entre os efeitos mais danosos desses ciclones — comuns no Rio Grande do Sul, Argentina e Uruguai — e a crise climática global, que pode estar ajudando a torná-los mais intensos, com formações mais rápidas e mais impactantes.
“Em princípio, há relação com as mudanças climáticas. Com a atmosfera acumulando muito mais energia em função do aquecimento que o planeta está sofrendo por conta da emissão de gases de efeito estufa, os sistemas se tornam mais intensos”, disse recentemente à Deutsch Welle o cientista Tércio Ambrizzi.
Nos próximos dias, as previsões não são nada animadoras para a região Sul. Um novo ciclone extratropical pode se formar e avançar para os litorais gaúchos e catarinenses, levando à ocorrência de novas chuvas e quedas na temperatura. Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), do Ministério da Agricultura e Pecuária, todo o estado está sob alerta de tempestade.
Arrecadação
Para ajudar quem perdeu tudo, uma série de campanhas de doações estão recolhendo materiais e alimentos. Segundo a Defesa Civil, a prioridade no momento são comida, água e colchões. Também podem ser entregues kits de higiene e limpeza, agasalhos e roupas de cama. As doações podem ser feitas:
- Na Central de doações da Defesa Civil em Porto Alegre (Avenida Borges de Medeiros, 1.501);
- No Palácio Piratini, sede do governo (Praça Mal. Deodoro, s/n – Porto Alegre);
- Nos quartéis da Brigada Militar e do Corpo de Bombeiros;
- Nas prefeituras;
- Em agências do Banrisul;
- E nos pontos de doação da campanha do agasalho.
Com agências