Com os primeiros dias de trabalho e interrogatórios na CPI da Covid, instalada pelo Senado Federal, no início deste mês de Maio, algumas coisas que sabíamos ou intuíamos estão cada vez mais evidentes. A principal: Bolsonaro comete crime de lesa humanidade contra o povo brasileiro desde o início da pandemia. Tudo aquilo que vimos, lemos e ouvimos sobre o comportamento do presidente da República, seu governo e apoiadores, apontavam para a execução desse crime hediondo contra o Brasil. Com a CPI em andamento, os interrogatórios de ex-ministros da Saúde deixam essa verdade absolutamente transparente, cristalina. E deve ser reconfirmada nas próximas semanas.

Por Altair Freitas*

Desde que o país passou a ser brutalmente atingido pela contaminação do Covid-19, a partir do final de fevereiro de 2020, Bolsonaro adotou o negacionismo sobre o impacto que a contaminação poderia trazer ao país, mesmo o Brasil estando pelo menos há dois meses atrasado em relação aos acontecimentos terríveis que já eram claramente visíveis na Europa e na Ásia, especialmente na Itália e na China, espalhando-se para outras nações com velocidade assustadora.

Entre Março e Abril de 2020, a pandemia já era uma realidade mundial, bem como os primeiros protocolos e medidas de segurança foram consolidados; e todas as agências, institutos e centros internacionais de estudos sobre infecções apontavam para a necessidade de adoção dos três procedimentos básicos para evitar uma ainda maior propagação da contaminação: distanciamento social – o “lock down como medida mais efetiva”, higienização permanente das mãos e utilização da máscara de proteção. Ainda em Março de 2020, Bolsonaro se pronunciou sobre a pandemia (já declarada pela Organização Mundial da Saúde como tal no dia 11 daquele mês), com gracejos, em uma coletiva de imprensa no dia 20; e, no dia 24, em pronunciamento oficial em rede nacional, tratou a crise sanitária como uma “gripezinha”. Afirmou que a pandemia era “alarmismo da mídia”, dentre outras afirmações que repetiu e repete ao longo desse mais de um ano de pandemia no país.

Na medida em que a pandemia avançava no Brasil, o governo Bolsonaro, pela voz do próprio presidente, passou a manifestar e propagar a tese de que era necessário ao povo expor-se ao vírus, de modo a adquirir uma hipotética “imunidade de rebanho”.

A estratégia estava ancorada, provavelmente, na ação adotada pelo Primeiro Ministro britânico, Boris Johnson, em Março de 2020, que se revelou um grande desastre. Em Maio, a Inglaterra tornou-se o epicentro da pandemia, superando a Itália e a França, forçando o governo de Boris Johnson a mudar radicalmente sua postura negacionista e adotar um duro lockdown. Essa medida foi adotada três vezes ao longo de um ano, uma vez que, após cada período de “fechamento” com queda acentuada da contaminação, ela voltou com força. Não faltavam provas cabais sobre a necessidade de combinar medidas de prevenção com rígido distanciamento social para, pelo menos, diminuir a circulação do vírus, mas Bolsonaro intensificou a pregação sobre a necessidade de o povo ser exposto à contaminação pela Covid 19. A lista de datas, falas, vídeos, mostrando o ataque à ciência e às medidas de combate ao Coronavírus são inúmeras, bem como a promoção de muitas aglomerações. Bolsonaro tornou-se um propagador do vírus. Virou um agente absolutamente consciente da contaminação em massa!

É exatamente nesse ponto que chego: Por que podemos afirmar que Bolsonaro cometeu e segue cometendo crime de lesa humanidade contra o povo brasileiro? Porque sua estratégia foi a combinação da defesa e ação prática de duas medidas absolutamente criminosas: estímulo ao povo para que fosse às ruas, burlasse as medidas de restrições das atividades econômicas, para um enorme contágio em escala nacional, visando a tal “imunidade de rebanho” e a prescrição de hidroxicloroquina/invermectina como supostos remédios para combater os efeitos da contaminação. Então, é importante acentuar: ele tinha absoluta clareza sobre a capacidade contaminante do vírus. Logo, como a contaminação seria massiva, massiva também deveria ser a aplicação dos remédios sem eficácia comprovada, como forma de combater os efeitos da doença. Foram ações deliberadas, pensadas, projetadas e que – a verdade histórica está comprovando – resultaram na hecatombe nacional que a Covid-19 está causando no Brasil. Na verdade, o grande drama nacional, entre Fevereiro de 2020 e o atual Maio de 2021, com cerca de 15 milhões de contaminados e mais de 410 mil mortos (sem contar uma possível subnotificação na casa dos 30%), não foi causado pelo vírus, mas por Bolsonaro!

A logica criminosa de Jair Bolsonaro condicionou outros tantos movimentos, terríveis, ao longo da pandemia, como o fato de estarmos no quarto ministro da Saúde em um ano, já que Mandetta e Teich romperam com o presidente por não aceitarem a sua pregação criminosa.

O general Pazzuello assumiu o Ministério da Saúde em Maio de 2020 e ficou explícito que ele seguia todas as determinações de Bolsonaro para que o país caminhasse à exposição em massa ao vírus e ao uso da Cloroquina e Invermectina no suposto tratamento precoce, inclusive, com a produção em massa da hidroxicloroquina pelos laboratórios do Exército Brasileiro e sua distribuição para diversos municípios. Cumpre lembrar que apenas para Manaus, que vivenciou o pior drama concentrado da pandemia no Brasil no início deste ano, o ministério da Saúde, com Pazzuello à frente, enviou mais de 120 mil doses de cloroquina, conforme relatório do Tribunal de Contas da União. Em declaração bombástica nesta semana, o vice-governador do Amazonas, Almeida Filho, declarou que o acontecido em Manaus foi resultado de atos deliberados, planejados por Bolsonaro, o ministro Pazzuello e a milícia bolsonarista nas redes sociais, num verdadeiro experimento que só encontra paralelo nos crimes do nazismo comandado por Hitler.

Manaus, como vimos, vivenciou a brutalidade de mortes em leitos de UTI por falta de oxigênio. Manaus, e outros municípios de diversos estados, entraram em colapso nos seus sistemas de saúde em função do desenvolvimento de novas variantes do vírus, resultantes das aglomerações, festas de final de ano e outros mecanismos de contaminação em massa, amplamente estimulados por Bolsonaro e seus seguidores, especialmente seus filhos, o que está amplamente documentado, uma vez que eles próprios cansaram de postar nas suas redes sociais, conclamações ao povo para que desobedecessem as determinações adotadas por governadores e prefeitos para o distanciamento social. O vice-governador se dispôs a depor na CPI, alegando ter elementos objetivos que comprovam essa ação criminosa do bolsonarismo em Manaus e no Amazonas.

A lógica criminosa de Jair Bolsonaro atrasou enormemente a implementação das medidas econômicas aprovadas pelo Congresso Nacional para sobrevivência de empresas e trabalhadores (as), como o Auxílio Emergencial de R$ 600,00. Cumpre lembrar que o valor proposto inicialmente pelo governo era de apenas R$ 200,00 por três meses! Coube ao Congresso elevar o valor e garantir a sua prorrogação até o final de 2020. E coube ao governo Bolsonaro extinguir o Auxílio Emergencial e demais medidas fundamentais para evitar o colapso econômico durante os quatro primeiros meses de 2021, quando da retomada do Auxílio com valores muito inferiores e atingindo um volume muito menor de brasileiros (as). A lógica criminosa se impôs à nação!

É imprescindível que as forças políticas comprometidas com a democracia, incluindo os partidos, movimentos sociais e personalidades com representatividade junto ao povo, estejam unidas em defesa da CPI em andamento, para que ela investigue ainda mais profundamente os crimes cometidos por Bolsonaro e sua milícia que tomaram conta do Palácio do Planalto e de determinadas esferas da comunicação e outros setores sociais importantes.

Nos últimos dias, acuado pelo início das investigações, a extrema direita, com o presidente à frente, vem ladrando todo dia contra a democracia, contra o Estado Democrático de Direito, contra a Constituição Cidadã, ameaçando impor ao país um estado ditatorial. É o grande sonho dele e seus asseclas. É fundamental isolar o bolsonarismo, arrebatar dele o que ainda resta de apoio em setores populares e empresariais e derrota-lo nos seus intentos tirânicos.

Frente Ampla é fundamental, em defesa da vida, da vacina, da economia. Em defesa do povo e do Brasil é preciso dar um basta, um chega, um grande Fora, Bolsonaro!

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Altair Freitas* é historiador, é secretário executivo da Escola Nacional do PCdoB e secretário municipal de Organização do PCdoB São Paulo (SP)

 

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