Por Erik José de Souza*

Juntamente com a Política de Quadros, para reforçar a vida militante é necessário dar mais atenção à construção das Organizações de Base, como diz o ponto 78 das teses. Em primeiro lugar, é necessário reafirmar a atualidade e relevância delas; uma prova concreta é o modelo de “células” adotado por diversas igrejas protestantes. Por meio dessas “células” que, assim como as OBs, são formadas inicialmente por apenas um punhado de pessoas, essas igrejas se espalham, se fazem presentes em cada bairro, em cada comunidade, em cada vila e em cada prédio. Da mesma forma, as Organizações de Base precisam estar em cada lugar onde estiverem os comunistas: “onde há comunistas combativos, há o Partido em luta”, Diógenes Arruda sintetizou.

Como esses elementos organizativos já existem, sobretudo nos grandes centros, a organização inicial deles não requer tanta atenção. É a continuidade, a vida militante ativa na Organização de Base que merece maior destaque. O PCdoB, em seu documento que explica as OBs, já indica quais atividades podem ser feitas; assim, é preciso ampliar a própria distribuição desses indicativos entre os militantes. De maneira complementar, pode-se produzir material mais recente (afinal, o documento inicial já possui mais de 20 anos de idade) específico para apreciação dessas bases, sobretudo com a lacuna aberta pela descontinuidade do jornal A Classe Operária. Desnecessário repetir o ponto 78, que indica o papel que essas OBs podem assumir na construção de novos meios de contato com as massas, como os cursinhos populares.

Nessa construção de base os estados do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais, ressaltados na tese como de maior centralidade para a construção política do país, precisam melhorar muito seus esforços. Os primeiros dados de mobilização neste congresso confirmam isso: em SP, estado com mais de 46 milhões de habitantes, foram mobilizados 3442 filiados e militantes; em MG, que conta com cerca de 21 milhões, foram mobilizados 1700; no Rio, que possui 17 milhões, foram 2400; já na Bahia, estado com quase 15 milhões de habitantes, foram mobilizados mais de 7000 militantes! Que exemplo!

Nesse processo de revigoramento nos grandes centros do sudeste, assume centralidade a necessidade da reafirmação (constantemente necessária em qualquer organização marxista-leninista) do socialismo, ideal da classe operária e aspiração de todos os povos. É a melhor maneira de fortalecer a identidade própria do partido, pois sua luta pelo socialismo científico, desenvolvida pelo seu programa socialista, o diferencia de todas as outras legendas com representação parlamentar. Na Bahia, estado onde o PCdoB possui o melhor desempenho eleitoral e melhor estruturação, tanto a conferência de Salvador quanto a conferência estadual inseriram em seus lemas o socialismo. A deputada Olívia Santana foi clara: “Precisamos falar sobre socialismo, principalmente nesse momento tenebroso que o Brasil vive. Não queremos que o capitalismo esmague o direito à vida”; a ex-vereadora de Salvador Aladilce indicou que a profunda crise que o país vive exige a apresentação de uma alternativa e, assim, cria uma oportunidade de reafirmar o socialismo.

Muitas vezes, pela força e vigor da nossa juventude, é difícil encarar que o PCdoB é um partido demograficamente velho. Ou, sendo mais justo, demograficamente mais velho que a média nacional de filiados a partidos. Para além da maior inserção da juventude no corpo dirigente, política corretamente indicada no ponto 84 das teses, é absolutamente necessário observar com maior atenção as maneiras de engajar e alcançar mais jovens; e a luta pelo socialismo tem um papel fundamental nisso, ainda mais hoje do que no passado. Os “millenials” e parte da chamada “geração Z”, que cresceram no mundo pós-guerra fria vivenciaram com todas as consequências a crise de 2008 e, aqui no Brasil, a virada político-econômica no segundo governo Dilma e o golpe de 2016. Esses são jovens que, como eu, cresceram num país que vivia um de seus melhores momentos econômicos, viram aumentar sua qualidade de vida e poder de compra, criaram perspectivas e depois viram seus sonhos serem esmagados pela brutalidade do sistema e de suas crises constantes; tudo o que restou foram algumas sobras de governos “progressistas” que a reação dominante busca destruir, como as cotas sociais que me permitiram ingressar na universidade. Para essa juventude, o capitalismo não serve mais. Mesmo nos EUA, centro internacional desse sistema, a maioria da juventude já se coloca como mais favorável ao socialismo do que ao capitalismo. Essa questão já se coloca no ponto 83 do projeto de resolução, mas o que indico é repensar completamente a agitação e comunicação do partido a partir dessa perspectiva. Afinal, se conseguirmos engajar com efetividade essa juventude e a população no geral em nossa luta, o futuro só pode nos sorrir. Camaradas, vamos honrar o legado revolucionário do “Tio Cid”, guerrilheiro do Araguaia do qual todos somos sobrinhos.

 

*Estudante do curso de Ciências Sociais na USP, Secretário Municipal de Comunicação do PCdoB Seropédica, Diretor de Formação da UJS Seropédica e Assessor da Secretaria Estadual de Comunicação do PCdoB-RJ durante o 15º Congresso.

 

Texto divido em duas partes. Leia a primeira parte no link abaixo:

 

Elevar o nível da atuação partidária e seu caráter revolucionário – 1