Por Erik José de Souza*

 

No debate que se coloca sobre a IV parte do projeto de resolução, que discute a questão do revigoramento do Partido, diversos camaradas, assim como as próprias teses, já ressaltaram a centralidade do fortalecimento da atuação partidária nas bases. Afinal, se o PCdoB quer superar os vários problemas e dificuldades que se impõem na quadra atual, em especial a questão eleitoral, é necessário ampliar e fortalecer aquilo que lhe dá forças: sua militância.

O mote do sétimo encontro nacional sobre questões de partido, muito bem documentado numa edição especial d’A Classe Operária, ataca um ponto-chave: “mais vida militante para um partido do tamanho de nossas ideias”. Hoje, de maneira geral (mas mais focado no RJ, onde pude militar), é muito difícil que um filiado ou militante tenha uma vida militante satisfatória se não for parte de uma instância dirigente do partido. O que acontece na maioria das vezes é que esse militante concentra todos ou quase todos os seus esforços atuando numa das organizações de massa do partido e, depois de ascender dentro dessa organização de massa (num período que varia entre uns dois anos ou até décadas), seja indicado para uma das instâncias de direção e aí sim passe a possuir uma vida militante satisfatória, com tarefas e atuação bem definidas dentro do partido.

O problema parcial desse sistema é que ele desconsidera a especificidade de cada filiado. É certo que todos os filiados precisam possuir estreitos vínculos com as organizações de massa que são parte da esfera partidária, assim como os dirigentes devem ser aqueles já “forjados como aço” na melhor tradição bolchevique, mas também é certo que existem os que, desde o momento em que ingressam no PCdoB, são mais aptos a concentrarem seus esforços na construção da identidade do partido em si. Quando se tem em conta a questão eleitoral, o papel da construção desses militantes ganha ainda mais relevância: as pessoas votam na legenda do PCdoB e, por isso, precisamos que elas criem identificação com o PCdoB em si para termos uma base eleitoral fidelizada, como pede o ponto 78.

Para isso, já existe a Política de Quadros do PCdoB de 2009. No clássico “Que Fazer”, Lênin destaca como os marxistas alemães lidavam com os quadros:

“procuram pôr imediatamente todo operário capaz em condições que lhe permitam desenvolver plenamente e aplicar plenamente as suas aptidões: fazem dele um agitador profissional, encorajam-no a alargar o seu campo de ação, a estendê-lo de uma fábrica a toda uma profissão, de uma localidade a todo o país. Assim, o operário adquire experiência e perícia profissional, alarga o seu horizonte e os seus conhecimentos, observa de perto os chefes políticos eminentes de outras localidades e de outros partidos, esforça-se por se elevar ele próprio ao nível deles e de reunir em si o conhecimento do meio operário e o vigor das convicções socialistas com a competência profissional, sem a qual o proletariado não pode travar uma luta tenaz contra inimigos perfeitamente adestrados.”

Para que alcancemos tais objetivos de formação de quadros, é necessário primeiro que se os conheça melhor; que o partido construa mais efetivamente uma política para que os dirigentes conheçam bem cada quadro e suas aptidões para poder inseri-los na esfera correta. Destaco duas ferramentas essenciais para isso: a possibilidade de ordenamento de dados que o PCdoB Digital proporciona e o maior estudo das políticas de quadros em sua aplicação. É certo que a formulação dos pontos dessa política do PCdoB contou com esse estudo, mas é necessário que ele também exista em sua aplicação. Tanto Dimitrov (em especial em seus informes no 7° Congresso da IC) quanto Diógenes Arruda possuem papel teórico central: para eles, era necessário que 1) se conheça profundamente os quadros; 2) se promova criteriosamente os quadros; 3) se utilize adequadamente os quadros; 4) se distribua criteriosamente os quadros; 5) se ajude sistematicamente os quadros; 6) se vele cuidadosamente pela conservação dos quadros. Enquanto todas essas questões não forem profundamente estudadas e assimiladas por todo o corpo dirigente, não somente pelos departamentos de quadros e secretarias de organização, não será possível aplicar corretamente a Política de Quadros.

 

Parte 1. Texto divido em duas partes.

 

*Estudante do curso de Ciências Sociais na USP, Secretário Municipal de Comunicação do PCdoB Seropédica, Diretor de Formação da UJS Seropédica e Assessor da Secretaria Estadual de Comunicação do PCdoB-RJ durante o 15º Congresso.