Deputado Renildo Calheiros (PCdoB-PE)

Líder do PCdoB na Câmara diz que novo relatório de painel internacional de cientistas mostra que o meio ambiente pede socorro. Influência humana no clima é “inequívoca” e aumento de temperatura pode superar 1,5ºC já em 2040. Muitos efeitos são irreversíveis, mas ainda há tempo de evitar o pior

As mudanças climáticas são reais, causadas pelo homem, estão se intensificando numa velocidade espantosa, sem precedentes nos últimos 2 mil anos (pelo menos) e com consequências potencialmente gravíssimas para os seres humanos e o planeta, incluindo a intensificação de tempestades, secas e ondas de calor extremo.

Esses são alguns alertas trazidos pelo Sexto Relatório de Análise (AR6, em inglês) do Painel Intergovernamental sobre Mudanças do Clima (IPCC), cuja primeira parte foi divulgada nesta segunda-feira, em Genebra. É um documento de milhares de páginas, com 234 autores principais (mais 517 colaboradores), oriundos de 66 países (sete deles do Brasil), que destrincha textualmente e graficamente todo o conhecimento científico disponível no mundo sobre as mudanças climáticas globais — uma verdadeira enciclopédia científica, com peso mais do que suficiente para esmagar qualquer resquício de negacionismo que alguns governos estimulam sobre o assunto.

O líder do PCdoB na Câmara, deputado federal, Renildo Calheiros (PE), resume o relatório como um pedido de socorro do meio ambiente. “Mudanças climáticas sem precedentes, provocadas pela ação humana, já são inevitáveis. A temperatura média do planeta tende a se elevar em 1,5º C nas próximas 2 décadas, trazendo devastação”, destaca ele.

Muitas dessas consequências — como o derretimento de geleiras e o aumento do nível do mar — são irreversíveis, até mesmo numa escala de milhares de anos; mas ainda há tempo de evitar uma calamidade climática global, desde que a espécie humana reduza imediatamente, e de forma bastante significativa, suas emissões de gases de efeito estufa para a atmosfera. Sem isso, é “extremamente provável” (95% a 100% de probabilidade) que o aquecimento global ultrapasse a perigosa marca de 2 graus Celsius até o final deste século, com grandes chances de chegar a 1,5°C já nos próximos 20 anos, caso as emissões de carbono permanecerem no nível atual. Num cenário mais pessimista de aumento de emissões, o aquecimento poderia ultrapassar 4°C antes de 2100.

Renildo cita o caso da Grécia, como um exemplo dos efeitos das mudanças climáticas. “Os gregos enfrentam o pior verão em 40 anos. A Ilha de Eubeia, a segunda maior do país, foi devastada pelo fogo. A população de suas cidades teve de ser resgatada em balsas”, relata ele.

O parlamentar concorda com o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, que diz que o relatório climático é um alerta para a humanidade. “O documento deve estimular urgentemente a busca de soluções conjuntas para impedirmos o agravamento da situação no mundo”, diz Renildo.

Há muitos anos já existe um consenso científico muito bem estabelecido de que atividades humanas estão superaquecendo o planeta, e que essa elevação de temperatura é responsável pelas mudanças climáticas, cada vez mais intensas, que temos vivenciado nas últimas décadas. Ainda assim, o uso do termo “inequívoco” agrega uma camada adicional de certeza e contundência ao fato. Comparativamente, o relatório anterior (AR5), divulgado em 2013, dizia ser “extremamente provável que a influência humana seja a causa dominante do aquecimento observado desde meados do século 20”.

Não se trata de uma opinião, mas de uma constatação científica. Mais de 14 mil estudos foram analisados na elaboração do novo relatório, e as evidências não deixam dúvidas nem sobre o papel do homem nem sobre a gravidade do problema. O que muda nesse novo documento, em relação ao anterior é, principalmente, o grau de refinamento das análises sobre o que está acontecendo e das projeções sobre o que pode vir a acontecer no futuro, com base nos novos conhecimentos acumulados ao longo desses últimos oito anos. Essa primeira parte do relatório não propõe soluções nem avalia a efetividade de políticas públicas; apenas apresenta as evidências científicas necessárias para embasar a tomada de decisões sobre o enfrentamento da crise climática.

coletiva de imprensa do IPCC para a divulgação do relatório foi acompanhada ao vivo por mais de sete mil pessoas. A diretora executiva do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente e secretária-geral adjunta das Nações Unidas, Inger Andersen, abriu sua fala ressaltando que as mudanças climáticas são um problema do presente, não do futuro, e que “ninguém está seguro”. “Precisamos encarar as mudanças climáticas como uma ameaça imediata”, destacou ela. “É hora de sermos sérios, porque cada tonelada de CO2 emitida agrava o aquecimento global.”

“É hora de agir, imediatamente”, reforçou o físico brasileiro Paulo Artaxo, da Universidade de São Paulo (USP), em um seminário online realizado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) sobre o relatório. Sem uma reação imediata de todos os países, no sentido de reduzir significativamente suas emissões de gases de efeito estufa, segundo ele, a meta de limitar o aquecimento global a 1,5°C pode se tornar “impossível”. As emissões globais de dióxido de carbono, por exemplo, teriam de ser reduzidas cerca de 7% ao ano até 2050. “A receita está dada”, pontuou Artaxo. “O IPCC já colocou claramente o que precisa ser feito.”

Mapa elaborado pela Nasa mostra o acúmulo de anomalias térmicas registradas no planeta de 2016 a 2020, em comparação com a temperatura média registrada no período 1951-1980 (usada como referência de “temperatura normal”). As manchas vermelhas representam áreas onde a temperatura ficou acima do normal, enquanto que as manchas azuis representam temperaturas abaixo do normal. 2020 e 2016 foram os anos mais quentes já registrados no planeta e 2017, 2018 e 2019 também estão entre os mais quentes da série histórica – Vídeo: NASA’s Scientific Visualization Studio(por Cezar Xavier)