O Partido que temos hoje é o partido que precisamos? Nos marcos atuais, onde as pressões por novas formas de militância, novas áreas de atuação, demandariam novas formas de organização? O velho paradigma, um jornal (impresso) um Partido, ainda é atual?

Tenho uma preocupação recorrente, o sangue novo de nossa militância em boa parte jovem não só de idade, mas também em anos de filiação, teria a formação teórica adequada para compreender os desafios que teremos pela frente? São tantas dúvidas e não me sinto capaz de formular respostas, mas repassar essas dúvidas para o corpo de nossa militância para talvez assim encontrarmos respostas. Vou então agora externar minha opinião e aguardar para que haja provocação suficiente e que se possa proceder algum nível de debate.

Pessoalmente ainda creio e defendo questões basilares quanto ao Partido. Primeiro somos e deveremos continuar a ter uma orientação marxista-leninista, sua estrutura organizativa e política deve corresponder na prática a uma orientação revolucionária. Mas essa organização precisa refletir o atual estágio de vida da sociedade, ampliando o nosso alcance para novas frentes, já não somos mais apenas operários e camponeses de um lado a burguesia de outro.

Nos últimos anos novas frentes de luta cresceram em importância por pressão de uma sociedade em mutação. A questão ecológica, a defesa do Planeta Terra, a defesa da vida ganha corações e mentes. É algo que se antepõe à exploração capitalista no seu cerne principal, na macroeconomia e seus desdobramentos. Precisamos avançar na discussão através de argumentos políticos concretos, o que nos dissociaria dos verdes e seu apoliticismo.

A questão de gênero é outra que ganhou corpo com a ampliação de seu espectro, atingindo ao universo LGBT*, que demanda novas formas de abordagem e organização. Alexandra Kollontai continua a ser nosso Norte, quando se definia como uma comunista revolucionária e não uma simples feminista, justificando a sua posição por achar que a luta de classes é mais ampla.

A questão da defesa do povo negro cresce dia a dia por seu peso e influencia na sociedade, envolvendo a questão cultural em sua expressão maior, reafirmando o valor de um povo economicamente ativo, mas ainda desprezado pela mídia. Samba, hip hop, reggae, funk expressões culturais que precisam ser politizadas.

A juventude e os estudantes continuam a ser duas vertentes fundamentais para a oxigenação de nossos quadros, por seu protagonismo e disposição de luta. Mas como deve se dar a organização partidária, sabendo que há mais em jogo do que o velho esquema trabalho/moradia/estudo?

Cada organismo de base deveria se organizar por áreas de atuação? Ou uma mesmo OB, deveria compor nas diferentes frentes de atuação? Uma OB com essa característica não comporia um organismo intermediário?

Mas há uma questão que pesa e muito para uma organização marxista-leninista, o Centralismo Democrático! Pergunto, colocando desde já uma dúvida primordial: nossa militância atual compreende o significado e a relevância para os comunistas dessas duas palavras? Como pensar em um partido que se quer revolucionário sem entender e aplicar o Centralismo? E como dissocia-lo da Democracia? Tenho lido em redes sociais pessoas filiadas ao Partido falando em “democracia”, exigindo “liberdade” nas questões partidárias, se colocando CONTRA a conduta política definida. Em boa parte, são pessoas com pouca vivência comunista, mas até velhos (antigos acho que soaria melhor) militantes se posicionam, achando, talvez, que um grupo de comunistas em uma rede social tivesse a devida representação formal de uma estrutura partidária.

Lenin tratou a questão central da democracia em seu discurso de 19 de Maio de 1.919 no Congresso sobre a Educação extra tutorial, com o título Como iludir o povo com slogans de liberdade e igualdade. O trecho a seguir deve ser lido e refletido, para que seja devidamente debatido.

“No momento em que se quer atingir a destruição do poder do Capital em todo o mundo, ou mesmo num país, nesse momento histórico, quando a principal tarefa for a luta das classes trabalhadoras pelo total aniquilamento do Capital, pela completa destruição da produção mercantil, qualquer pessoa que, em tal momento político, utilize as palavras “Liberdade em geral”, que, em nome desta liberdade atue contra a ditadura do proletariado, está a serviço dos exploradores e nada mais, é sua aliada, porque a liberdade, quando não subordinada aos interesses da emancipação do Trabalho do jugo do Capital, é uma fraude, como declaramos claramente no nosso programa do partido. Talvez isto seja supérfluo do ponto de vista da formulação externado programa, mas é fundamental do ponto de vista da nossa propaganda e educação, do ponto de vista dos fundamentos da luta proletária e do poder proletário. ”

(Lenin, V. I., Como iludir o povo com slogans de liberdade e igualdade, Coleção Bases, Global Editora, 1979, pag. 26)

Com este artigo espero ter contribuído para alcançarmos uma formulação para o partido que precisamos no Terceiro Milênio, em um outo texto pretendo avançar em questões práticas para a nossa organização.

*Professor de história, sindicalista, militante desde 1984.