Ainda pensando no Partido para o século 21. Precisamos (re) definir o conceito do que é ser REVOLUCIONÁRIO. Para tanto, vamos recorrer a um bom e velho dicionário:

Por Renato Artur Nascimento*

Significado de Revolucionário

“Que provoca revoluções; favorável a transformações radicais no âmbito político ou social; progressista. ”

“Definido pela criatividade, originalidade, ousadia; capaz de ocasionar mudanças em normas preestabelecidas; inovador. ”

Então temos duas representações significantes. Comecemos pela segunda, onde ser criativo, ousado, é ser revolucionário. Nos dias atuais isso pode ser uma mudança no visual, na forma de se vestir, na aparência exterior ou outras formas de se mostrar ao mundo. Algumas pessoas podem definir isto como “pop” ou “modinha”, uma visão transitória que não visa uma transformação realmente radical e profunda da sociedade. Algo bem contemporâneo.

Vamos agora ao primeiro significado, este que nos interessa. Ser comunista é ser revolucionário? A resposta é sim! Quando nos propomos a lutar pela transformação radical de toda a sociedade, nós decidimos pela Revolução! Mas devemos agir, atuar, militar, como se fazia nos tempos antigos? Decerto que não, outros tempos, novas formas de atuação nos esperam. No artigo anterior, Um Partido para o Século XXI, questiono outras formas de organização, sob a ótica leninista, avaliando essa nova realidade e gostaria agora de ir um pouco adiante na formulação.

A organização de luta tem que estar adequada à realidade e às Frentes de batalha. E é claro, dentro desse novo contexto de vida. Pensem, por um momento, no que era a vida dos revolucionários comunistas de cinquenta anos atrás, por exemplo. Como era a militância em 1967? Tempos de clandestinidade e enfrentamentos, quando se começavam os levantamentos na Região do Araguaia. Segurança era fundamental, para preservar o Partido e seus quadros. Os métodos e precauções aplicados naquela época seriam os mesmos de hoje? Certamente não, vivemos um novo momento, mas será que essa situação se manterá estável nesse quadro de acirramento da luta? Não tenho a resposta para isso, mas tenho a preocupação quanto a essa realidade.

Mas vamos seguir este nosso exercício meio futurista. Hoje vivemos uma nova Era, da Informação. A nova Revolução Industrial se dá nas “nuvens”, é a TI, Tecnologia da Informação. Internet, computadores, celulares e toda comodidade que isso nos trouxe. Alguém vive sem estar conectado? Podemos até usar pouco, mas nossas vidas estão atravessadas pela conectividade. Mas em um quadro de recrudescimento, onde a segurança é necessária, como foi a 50 anos atrás, como seria? Como nossa militância reagiria? Hoje portar um celular é estar a descoberto, esteja onde estiver! Computadores podem ser rastreados com facilidade, para enfrentar essa situação precisaremos treinar hackers? Nossa juventude revolucionária estaria pronta para abandonar seus celulares?

Vejam que, hipoteticamente, apresento um quadro de insegurança que parece coisa do passado, mas o futuro é algo que pode nos assombrar. Se alguém lhes dissesse que os acontecimentos atuais de retrocesso poderiam acontecer, de fato, o que você iria pensar? Qual seria a sua reação? Precisamos de um Partido arrojado, marxista-leninista, antenado com a realidade atual e pronto a dar respostas que o momento exigir. Então, pensar em uma situação assim é mais do que um exercício, é uma necessidade!

Precisamos aprofundar esse debate, compreender a fundo o que é essa “militância nas nuvens” (já foi chamado, em outros tempos, de cibernética), ter quadros preparados e formação específica para vivermos nessa “realidade paralela”.

 

*Professor de história, sindicalista, militante desde 1984.