Este XIV Congresso está sendo realizado em um período de profundas derrotas do movimento operário brasileiro. Momentos dessa natureza são os melhores para análises que permitam superar fraquezas e erros, se bem feitas. Para contribuir nesse sentido vem este artigo.

Por Daniel V. Sebastiani*

As Teses do PCdoB estão essencialmente corretas e abordam de forma adequada a luta de classes no seu período atual, portanto vamos usar o espaço para as críticas e contribuições de essência.

Primeiro: cabe analisar melhor na Tese qual o motivo que levou o Partido a não conseguir se individualizar do PT e, por isso, não conseguir marcar espaço político à esquerda, na luta pelas reformas estruturais que apontávamos, corretamente, nos documentos (e não foram feitas) abrindo espaço para forças inconsequentes, de matiz pequeno-burguês, como o PSOL. Uma ideia do motivo: o desespero do Partido em manter e ampliar a sua presença institucional, o desvio institucionalista. Um espaço no ministério  passou a ser mais importante do que uma boa briga política no movimento de massas.

Segundo: cabe analisar melhor na Tese a nossa definição de burguesia associada ao Projeto Nacional de Desenvolvimento. É a burguesia nacional das teses do velho Partidão? É a reedição da “Alternativa Democrática  à Crise Brasileira” do Partidão dos anos 80? É correto se falar no Brasil de burguesia e projeto nacional? Ficamos no marxismo e esquecemo-nos do Brasil? A nossa teoria segue ou não a máxima “Marxismo + Brasil”? E então, onde ficam as conclusões do que a burguesia fez do segundo período getulista até o Governo Dilma? Não foi contra todos os projetos nacionais? Não há burguesia com projeto nacional no Brasil como há na Coréia do Sul, no Irã ou na Rússia! Cada realidade é uma realidade. Isto não invalida a tática de Frente Ampla na atual quadra e muito menos a aliança com setores produtivistas contra o capital financeiro. Mas se concluímos que o Projeto Nacional de Desenvolvimento passa pela hegemonia da classe operária latu sensu, então temos que ser consequentes na subordinação do Programa Mínimo (definição leninista muito mais apropriada para o que se denomina de tática) ao Programa Máximo (definição leninista muito mais apropriada para o que se denomina de estratégia) e entender que a tarefa número UM é aglutinar um bloco de esquerda (para nuclear e guiar a Frente Ampla) e armar politicamente a classe operária latu sensu, mais do que ficar negociando com todos de igual forma e confundindo a base popular com alguns de nossos movimentos. Prioridade: garantir a nossa inserção na massa e uma força partidária e de esquerda consistente e forte. O restante compõe a dinâmica do possível na Frente Ampla. Sem a ilusão que pode existir projeto nacional sem essência política proletária. Reitera-se: nada de etapismos, todas as tarefas cabem na Frente Ampla hoje, mas o VÉRTICE operário e de esquerda tem que ser a expressão de nossa cara pública através de nossos movimentos políticos!

Terceiro: o PC do B precisa romper com os contrabandos pós-modernos que o multiculturalismo petista tem (como se fosse a “liquidez” (sic) de Bauman) infiltrado nos espaços de “micro-poderes” (sic) e “empoderamentos” (sic) foulcaultianos (sic) partidários! Estes contrabandos ideológicos vão desde o Freire na educação (o uso petista é altamente deformador da obra), passando pela exegese do politicamente correto que invadiu os nossos documentos e as nossas práticas (transformando o específico em central e o central em secundário) até a visão saint-simoniana dos direitos humanos (que faz o jogo das ONGs imperialistas) e trata o lumpen de uma forma que afasta (assim  como todo o restante que referimos acima) o proletariado das nossas fileiras e o joga, muitas vezes, no colo da extrema direita fascista – bolsonarista.

Algumas provocações para este importante XIV Congresso! Viva o PCdoB!

*Integrante do Comitê Estadual do PCdoB/RS