Eis que devemos discutir a política de coalizões ampla. Devemos partir para o debate afirmando que alianças são necessárias, mas devem ser realizadas com base em nossos princípios comunistas e sem ilusões de classe. É imperativo sempre ter em mente as vacilações e os limites de “nossos aliados”. É crucial que dentro destas frentes amplas, independente de qualquer adversidade, o objetivo do PCdoB seja sempre tornar-se a força política majoritária e dirigente. O Partido não pode sob hipótese nenhuma ser relegado ao papel de coadjuvante. Sua missão histórica é dirigir o processo de transição ao socialismo, somos os únicos capazes de tocar adiante a modernização da sociedade brasileira.

A política de amplitude sem critérios também foi incapaz de produzir resultados significativos de longo prazo. Adotando como critério o aumento de deputados federais para analisar o sucesso desta política, saímos de 5 deputados federais em 1990 para apenas 10 parlamentares em 2014. No auge, em 2010, chegamos a 15 parlamentares. Ou seja, é seguro afirmar que esta linha não se mostrou capaz de oferecer resultados duradouros e quantitativos. Outro ponto importante foi a desfiliação do quadro histórico Aldo Rebelo. Um sinal claro do desgaste desta linha.

Aliás, as desfiliações são um problema importante. Escolher militar em um Partido Comunista não é como escolher militar em um partido burguês. É um compromisso de vida. Nenhum comunista se filia por carreirismo. Toda a vez que acontece uma desfiliação do Partido, trata-se de um problema grave que deve ser analisado com detalhes, principalmente se a origem for diferenças ideológicas.

Ideologicamente, a política de amplitude sem princípios, pragmática e visando apenas ganhos quantitativos erodiu o marxismo-leninismo e descaracterizou o Partido. Dentre os principais desvios, podemos destacar, diversos camaradas bem intencionados, mas que confundem o nacionalismo burguês com a questão nacional do ponto de vista proletário. Outros  confundem o multiculturalismo com o marxismo  e  alguns sequer se reivindicam marxista-leninistas.

O problema da formação ideológica dos quadros não é novo, nem exclusividade do PCdoB. Mao Zedong já nos alertava em 1956 que “ideologicamente, os membros do Partido caem em três categorias: alguns camaradas são firmes e inabaláveis e são marxista-leninistas em seus pensamentos; um número considerável são essencialmente marxista-leninistas mas infectados com ideias não marxista-leninistas; e um número pequeno não são bons, seus pensamentos são antimarxista-leninista.” Se Partido no poder tem este tipo de problema, imaginem os fora dele.

A adoção do mantra “amplitude” como resposta geral as demandas políticas e organizativas do Partido abriram as portas para todo tipo de oportunismo e despreparo, sendo, talvez, a grande rota de entrada do pensamento burguês para dentro do Partido.

No plano organizacional, o PCdoB adota, faz um tempo, a política de portas abertas. O objetivo é deixar as massas entrarem no Partido para formamos revolucionários combativos. O resultado, no entanto, foi diferente do esperado. Queremos ser um Partido Comunista de massas, mas na prática, temos nos tornado cada vez mais um partido de massas. Filiados sem qualquer domínio da teoria marxista-leninista, pessoas interessadas em fazer do Partido uma legenda de aluguel, entre outros exemplos, se tornaram, infelizmente, um cenário comum dentro da vida partidária.

Vivemos o mesmo problema que Lênin expôs em 1905 no seu famoso O que fazer?, um período de profunda fraqueza teórica. Como sem teoria revolucionária não há prática revolucionária, passamos ao problema central do 14º Congresso, como tornar o PCdoB um instrumento revolucionário capaz de avançar nas mudanças?

Todas as revoluções socialistas exitosas não basearam suas estratégias exclusivamente em coalizões amplas, mas sim em Partidos ideologicamente coesos, organizacionalmente disciplinado e de massas. O marxismo-leninismo deve ser o cimento que une todos os militantes do Partido. A política de coalizão deve sempre ser um estratégia transitória, nunca um fim e sim mesma.

Nesse sentido, a política de reorganização consagrada nas teses do Congresso são extremamente bem vindas. A busca pela proletarização do Partido, pelo primor na formação teórica, pelo controle do número de filiados e da contribuição financeira, trará resultados positivos no longo prazo. O aplicativo PCdoB digital é uma ferramenta inovadora que certamente alça o Partido aos patamares necessários para enfrentar os desafios de nossa época. Contudo, não me parece ideal entregar de mão beijada ao Facebook a lista de filiados do Partido.

Merece destaque a iniciativa de tornar o PCdoB independente do fundo partidário. Um partido de massas só pode ser de massas se ele for sustentado pelas massas. Aliás, isso tangencia um outro ponto crucial que merece debate, o poder dos quadros parlamentares dentro do PCdoB.

Como afirmava Lênin, a necessidade de participação no parlamento burguês é imprescindível, mas sempre deve ter um caráter revolucionário. Os parlamentares do PCdoB são os representantes do Partido na  vida institucional do estado burguês e importantes figuras públicas. Sua importância, no entanto, não pode ser
inflada à uma condição superior a  de qualquer militante do Partido. Todos, da base à direção, são engrenagens da mesma máquina e possuem o mesmo objetivo. É perigoso que, por a sua posição especial na vida pública e papel no arrecadamento de recursos para o Partido, os parlamentares acumulem poder demasiado, abrindo riscos enormes para se colocarem acima da estrutura partidária e não atuarem sob direção do coletivo partidário. Já houve casos de parlamentares  do Partido que se pronunciaram contra posições oficiais do Comitê Central.

Uma vez que o reforço da disciplina já está proposto nas teses, seria interessante  explicitar para o fortalecimento do Partido uma metodologia para submeter os quadros parlamentares a uma maior “prestação de contas” – no sentido político – frente ao coletivo partidário,  da militância à direção. Jamais devemos esquecer que seus mandatos nasceram da militância abnegada do PCdoB.

Encerro aqui minha contribuição a tribuna de debates certo de que cumpri com o dever lançado pelo camarada João Amazonas de “cuidar mais e melhor do Partido”.

*Gaio Doria é militante do PCdoB residente na China.